Hoje vou contar pra
vocês a história de uma bela mais bela que aquela outra bela dos nossos velhos
tempos de crianças; das histórias que nossas avós nos contavam para nós fazer
dormir. Existe perdida num canto lá no mais distante norte do Brasil, uma
cidadezinha banhada pelo Uaupés, um dos braços mais amado do majestoso Rio
Negro; é lá onde mora a pequenina e bela São Gabriel da Cachoeira. Hoje nem sei
se ela ainda é linda, pequenina e bela. De lá é que se avista a “Bela
Adormecida”, uma montanha que alguém, ninguém sabe quem, mas com certeza algum
grande artista, um grande poeta, um grande piloto; um grande aviador; um grande
Deus das florestas que por lá se encantou, dando-nos a perfeita imagem de uma
bela Virgem Adormecida. Uma vez, e lá se
vão mais de não sei quantos anos, quando aguardávamos o embarque dos
passageiros -- e os “meus passageiros” eram sempre assim: -- Padres, freiras,
freirinhas, índios, índias, cachorros magros, médicos, remédios, rouxinóis, araras,
papagaios, jornais, velhas revistas; de tudo um pouco. Fazia um calor daqueles,
debaixo de um imenso sol de meio-dia, bem na linha do Equador, quando uma “voz
ecoou”: -- Pega!!! – Pega; pega; é um veado; e logo cachorros magros saíram na
maior disparada perseguindo o companheiro. Sentindo-se acuado, sem rumo, perdido,
ele voltou do meio da Pista de Pouso, na direção de um cercado, onde eram
armazenados os tambores de combustível; pulou a cerca, deu azar, pousou de mau
jeito, quebrou o pescoço, morreu, e foi pro céu. Antes de prosseguir na missão,
chamamos o nosso amigo Guarda-Campo e pedimos para deixar tudo pronto,
aguardando o nosso regresso, para um “churrasco” regado com cachaça e viola.
Voltamos de tardezinha e, à noite, nas margens do majestoso Uaupés, olhando ao
longe o adormecer da “Bela Adormecida”, iluminada por uma enorme lua cheia,
saboreamos o mais delicioso dos churrascos. Quantas saudades daqueles velhos
tempos; tempos do “Arco e Flecha”; tempos sem GPS; sem radares, nem celulares;
usando o tato e faro para nos guiar; sobrevoando a minha querida, a imensa, a
verdejante Floresta Amazônica; saboreando as mais deliciosas comidinhas
caseiras: Tacacás; patos no tucupi; caldeiradas de Tucunaré em Santarém, nas
margens das águas verdes do Tapajós; suculentas tartarugadas em Eirunepé, nas
margens do Juruá. Que deliciosos pernoites; melhor; muito melhor que tudo que
existe lá no velho mundo; lá na velha Paris...
Coronel Maciel.
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