Quantas e quantas vezes, mecânicos, rádios telegrafistas, pilotos, todos nós que fazíamos parte das tripulações dos aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base Aérea de Belém já pernoitaram nas antigas missões dos padres “Salesianos”, ao longo do majestoso Rio Negro. Naquela minha época havia o trinômio FAB – MISSIONÁRIOS -- ÍNDIOS. Hoje nem sei se essas missões ainda existem. O trinômio não existe mais... Hoje me parece que está tudo dominado... Dominado pelas tão “famosas” ONG’s... – “Visitem a Amazônia, enquanto ela (ainda) é nossa...”.
Após o café da manhã, antes de partir, o comandante do avião era solicitado pela madre superiora a escrever alguma coisa sobre aquele pernoite; um agradecimento qualquer pela simples, mas sempre amiga acolhida. Uma simples mensagem; qualquer coisa assim...
Lembro-me daquele dia que pernoitamos em Iauaretê. Iauaretê era uma linda cidadezinha, uma pequenina pérola situada bem no extremo noroeste do estado do Amazonas, numa região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança formada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos... Com suas penas mais negras que as asas das graúnas... Com suas penas douradas que lhes cobrem o papo... Ficam tão mansos quando acostumados com seus donos, que voam para as árvores frondosas, mas depois voltam, ao primeiro chamado do seu dono... Os nossos aviões também eram assim, como aqueles rouxinóis... -- Voavam, voavam, voavam e depois voltavam ao ninho antigo... Mas alguns não voltavam... Alguns não voltaram, jamais...
Pois bem. -- Naquele dia a nave americana “Columbia” havia sido lançada ao espaço sem fim. – Foi então que eu, aproveitando aquela “deixa”, escrevi a seguinte mensagem no famoso “Livro das Freiras”:
“—Neste tão lindo dia em que a nave Columbia realiza o seu segundo vôo orbital em torno da terra, outra nave, muito mais velha, mas muito mais querida, estará também cruzando os céus amazônicos, transportando em suas asas prateadas as cargas divinas da esperança... Estaremos transportando as esperadas correspondências; os bilhetinhos; as cartas de amor; os remédios tão esperados, os médicos, os dentistas, os jornais, as velhas revistas para serem distribuídas pelas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés, comunidades tão carentes das novidades das cidades grandes...”.
(E, como todo aviador tem sua veia romântico-poética, “solenizei” aquela “despedida” com os seguintes versos, que me veio bem na hora...)
“E a nave Columbia,
Lá do alto, lá do céu,
Não se cansa de dizer:
Oh Dakota, meu irmão!
Que sejas sempre fiel
Ao Major Maciel
E sua tripulação...”.
Tudo fazendo parte das sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos sobrevoando a imensa, linda e verdejante floresta amazônica...
Coronel Maciel.