sexta-feira, 6 de março de 2015

"ROSAS VERMELHAS".

Estávamos no auge da “Ditadura”! “Estou” em pleno voo transportando Higino Corseti, Ministro das Comunicações, numa longa viagem pelo interior do Norte/Nordeste, naquele grande esforço que os “ditadores” faziam para melhorar as comunicações por este imenso Brasil, um Brasil que não “falava” com ninguém. Nem o Norte com o Sul, nem o Este com Oeste. Acompanhava o ministro sua esposa, pois nos muitos municípios onde eram instaladas as torres e linhas de transmissões dos sinais, os prefeitos também se faziam acompanhar das suas respectivas.
Num dos nossos pernoites, foi em Fortaleza, fiquei sabendo pelo Ajudante de Ordem do Ministro que o casal completaria 25 anos de casados, no dia seguinte. A missão era feita no popular C-47, vulgo Dakota, especialmente equipado com “confortáveis” poltronas, e o meu “copila”, sempre ele! -- era o Tenente Alcântara, grande amigo e excelente piloto!  Bolamos então um “audacioso” plano que, se desse certo, nos renderia bons frutos.
Mandei comprar 25 rosas vermelhas “gigantes” e fizemos um cuidadoso “briefing” antes da decolagem para Teresina. O taifeiro de bordo, também um ótimo corneteiro, era um “Criolão” (Criolão, eu digo muito carinhosamente, sem conotações pejorativas) muito aprumado nos seus quase dois metros de altura, vestido à caráter, todo de branco, orgulhoso da sua nobre profissão. Ele ficaria segurando as rosas; eu ofereceria as “vermelhonas” à esposa do ministro, e o Alcântara faria o discurso.
Voávamos bem alto, no topo das nuvens, evitando as fortes turbulências.  O nosso “sensível” piloto automático ligado. Acordamos o casal e, muito educadamente, ofereci à senhora as 25 rosas vermelhas, e foi quando notamos que seus olhos marejavam de lágrimas, de tanta surpresa e emoção. O Alcântara então “abriu o verbo”, contumaz que era “em faltas dessa natureza”. Pois bem: Dali em diante demos adeus aos pernoites nos alojamentos dos nossos pobres Destacamentos de Proteção ao Voo, passando a pernoitar nos melhores hotéis, comendo do bom e bebendo do melhor. Um dos pernoites foi em Belém, exatamente no dia do Círio, e da sacada do Hotel, ficamos apreciando a enorme procissão -- vagarosa, parecendo imensa cobra humana se arrastando pelo chão.
Era nos bons tempos da “ditadura”...
Coronel Maciel.





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