Estávamos no auge da
“Ditadura”! “Estou” em pleno voo transportando Higino Corseti, Ministro das Comunicações,
numa longa viagem pelo interior do Norte/Nordeste, naquele grande esforço que
os “ditadores” faziam para melhorar as comunicações por este imenso Brasil, um
Brasil que não “falava” com ninguém. Nem o Norte com o Sul, nem o Este com Oeste.
Acompanhava o ministro sua esposa, pois nos muitos municípios onde eram
instaladas as torres e linhas de transmissões dos sinais, os prefeitos também
se faziam acompanhar das suas respectivas.
Num dos nossos
pernoites, foi em Fortaleza, fiquei sabendo pelo Ajudante de Ordem do Ministro
que o casal completaria 25 anos de casados, no dia seguinte. A missão era feita
no popular C-47, vulgo Dakota, especialmente equipado com “confortáveis”
poltronas, e o meu “copila”, sempre ele! -- era o Tenente Alcântara, grande
amigo e excelente piloto! Bolamos então
um “audacioso” plano que, se desse certo, nos renderia bons frutos.
Mandei comprar 25 rosas
vermelhas “gigantes” e fizemos um cuidadoso “briefing” antes da decolagem para
Teresina. O taifeiro de bordo, também um ótimo corneteiro, era um “Criolão” (Criolão,
eu digo muito carinhosamente, sem conotações pejorativas) muito aprumado nos seus
quase dois metros de altura, vestido à caráter, todo de branco, orgulhoso da
sua nobre profissão. Ele ficaria segurando as rosas; eu ofereceria as
“vermelhonas” à esposa do ministro, e o Alcântara faria o discurso.
Voávamos bem alto, no
topo das nuvens, evitando as fortes turbulências. O nosso “sensível” piloto automático ligado.
Acordamos o casal e, muito educadamente, ofereci à senhora as 25 rosas
vermelhas, e foi quando notamos que seus olhos marejavam de lágrimas, de tanta
surpresa e emoção. O Alcântara então “abriu o verbo”, contumaz que era “em faltas
dessa natureza”. Pois bem: Dali em diante demos adeus aos pernoites nos
alojamentos dos nossos pobres Destacamentos de Proteção ao Voo, passando a
pernoitar nos melhores hotéis, comendo do bom e bebendo do melhor. Um dos
pernoites foi em Belém, exatamente no dia do Círio, e da sacada do Hotel,
ficamos apreciando a enorme procissão -- vagarosa, parecendo imensa cobra
humana se arrastando pelo chão.
Era nos bons tempos da “ditadura”...
Coronel Maciel.
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