sábado, 7 de outubro de 2017

Círio de Belém.

                                       Círio de Belém.

Estávamos no auge da “Ditadura”! E me lembro agora cumprindo uma missão transportando o Ministro das Comunicações Higino Corsetti, numa longa viagem pelo interior do Norte/Nordeste, naquele grande esforço que todos nós fazíamos para melhorar as comunicações por este imenso Brasil, um Brasil que não “falava” com ninguém. Nem o Norte com o Sul, nem o Este com Oeste. Acompanhava o ministro sua esposa, pois nos muitos municípios onde eram instaladas as torres e linhas de transmissões dos sinais os prefeitos também se faziam acompanhar das suas respectivas.

Num dos nossos pernoites, foi em Fortaleza, fiquei sabendo pelo Ajudante de Ordem do Ministro que o casal completaria 25 anos de casados, no dia seguinte. A missão era feita no popular C-47, vulgo Dakota, equipado com “confortáveis” poltronas, e o meu “copila” era o meu grande amigo Tenente Alcântara. Bolamos então um “audacioso” plano que, se desse certo, nos renderia bons frutos!

Mandei comprar 25 rosas vermelhas “gigantes” e fizemos um cuidadoso “briefing” antes da decolagem para Teresina. O Taifeiro de bordo, também um ótimo corneteiro, era um enorme “criolão”! -- criolão, eu digo muito carinhosamente, sem conotações pejorativas. Muito aprumado nos seus quase dois metros de altura e vestido todo de branco. Orgulhoso da sua nobre profissão. Ele ficaria segurando as rosas; eu ofereceria as “vermelhonas” à esposa do Ministro, e o Alcântara, o discurso.

Voávamos bem alto, no topo das nuvens, evitando as fortes turbulências.  O piloto automático ligado. Acordamos o casal e, mui educadamente, ofereci à senhora as 25 lindas rosas vermelhas. Foi quando ela quase chora de tanta surpresa e emoção... O Alcântara fez então um dos seus mais emocionantes discursos, contumaz que era “em faltas dessa natureza”. Pois bem; dali em diante demos adeus aos pernoites nos alojamentos dos nossos Destacamentos, passando a pernoitar nos melhores hotéis, comendo do bom e bebendo do melhor. Um dos pernoites foi na minha linda cidade morena Belém do Pará, exatamente no dia do Círio, com o casal apreciando procissão da sacada de um Hotel situado na Avenida Presidente Vargas. A grande procissão mais parecia imensa cobra humana se arrastando pelo chão. Durante vários anos, por ocasião das festas natalinas, eu recebia uma caixa de vinhos de uma pequena fábrica que o Ministro possuía nos seus pampas gaúchos; e um cartão de boas festas assinado pelo simpático casal.

Era nos bons tempos da “Ditadura”...

Coronel Maciel

 



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