domingo, 1 de outubro de 2017

"Rouxinóis do Rio Negro"!

Quantas e quantas vezes, mecânicos, radiotelegrafistas, pilotos, todos juntos, todos nós que fazíamos parte das tripulações dos aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base Aérea de Belém, pernoitamos nas antigas missões “Salesianas”, ao longo do majestoso Rio Negro. Após o café da manhã, antes da partida, o piloto comandante era solicitado pela Madre Superiora, “Reitoras das Missões”, a escrever algumas linhas sobre aqueles inesquecíveis pernoites; um agradecimento qualquer; uma letra qualquer.
Lembro-me bem daquele dia que pernoitamos em Jauaretê, mais uma das pequeninas pérolas situadas no extremo noroeste do meu grande Estadão do Amazonas, região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança desenhada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos. Com suas penas “mais negras que as asas das graúnas”; com penas douradas que lhes cobrem o papo, eles ficam tão mansos que voam para o mais alto das árvores frondosas, para depois voltar, ao primeiro chamado dos seus donos.
Os nossos aviões se assemelhavam muito àqueles lindos rouxinóis: --Voavam, voavam, voavam bem alto, para depois vlotar ao ninho antigo. Mas alguns não voltaram; alguns não voltaram, jamais...
Naquele dia, a nave americana “Columbia” havia sido lançada ao espaço sem fim. Foi então que eu, aproveitando a “deixa”, escrevi a seguinte mensagem no famoso “Livro das Freiras”:
“Neste tão lindo dia quando a nave Columbia realiza o seu segundo vôo orbital em torno da terra, uma outra nave, muito mais velha e muito mais querida, estará também cruzando os céus amazônicos, transportando em suas asas as cargas divinas da esperança! Voando e transportando as mais esperadas lembrancinhas de amor; os milagrosos remédios, os médicos, os dentistas, velhos jornais; velhas revistas que eram distribuídas pelas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés!”
E, como todo aviador tem sua veia romântico-poética, “solenizei” aquela “despedida” com os seguintes versos, em cima da bucha!
     “E a nave Columbia,
      Lá do alto, lá do céu,
      Não se cansa de dizer:
      Oh Dakota, meu irmão!
      Que sejas sempre fiel
      Ao Capitão Maciel
      E sua tripulação...”

Tudo era motivo para sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos sobrevoando a imensa, a linda, a majestosa floresta amazônica!

Coronel Maciel.






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