sábado, 24 de agosto de 2019

INFERNO VERMELHO.


Voei muitas e muitas horas sobrevoando a minha querida Amazônia, naqueles meus velhos tempos quando era conhecida como “Inferno Verde”, e não “Inferno Vermelho”, como andam dizendo por aí; “Inferno” provocado, e não duvido nada, por esses demoníacos integrantes dessas demoníacas ONG’s, hoje “desempregados” pelo corte das esmolas que recebiam dos hipócritas europeus. A única fumaça que se via, não era provocada por incêndios criminosos. Vou lhes contar mais um daqueles meus velhos “causos”. O Rio Fresco é um dos afluentes do majestoso Rio Xingu. É lá que fica a aldeia “Gorotire”, dos índios Caiapós, aqueles de "Beiços de Pau". Começam bem cedo furando os lábios inferiores; à medida que vão envelhecendo, vão aumentando o diâmetro da bolacha de pau, ficando com aqueles beiços enormes; entre nós, os que se dizem civilizados, a coisa está ficando diferente; homens e mulheres ditas estão abrindo buracos pelo corpo inteiro, nos lugares mais difíceis, secretos e remotos. Decolamos, de manhã bem cedinho, de Gorotire para a aldeia dos índios Kubenkrankein, ou Kuben-kran-ken. Era manhã de um dia chuvoso, com nuvens baixas, as famosas e perigosas "Barbas de Bode", terror dos pilotos; são nuvens que costumam se enamorar das majestosas árvores, num longo abraço, iludindo os pilotos menos experientes que se aventuram a voar naquela Amazônia ainda virgem e desconhecida. Naqueles tempos não se conhecia os milagrosos GPS, quando perder-se na Amazônia era muito fácil; difícil era se achar depois; a tendência para quem se perdia naquela região era perder-se cada vez mais, e ficar cada vez mais com aquele gostinho de merda na boca; hoje, não; estou falando daqueles velhos tempos dos C-47; da aviação romântica; da aviação do “arco e flecha”. Na hora estimada da chegada, nada de avistarmos a aldeia dos Kubens. Abrimos para um "Quadrado Crescente", técnica usada para quem está perdido, naquele majestoso “Inferno Verde”; lá pela “Quarta Perna” avistamos fumaças, parecidas com as de uma enorme fogueira; era a famosa “Cachoeira da Fumaça”, onde se “escondia” a aldeia daqueles índios ainda muito arredios, que nos olhavam de longe, temerosos e ameaçadores. A fumaça nada mais era que respingos de água da enorme queda da cachoeira, respingos que subiam aos céus, como se fora um farol para orientação dos nossos bravos pilotos. Pousamos numa pista que mais parecia uma estrada de boi e fomos recebidos com hurras, gritos e pulos dos índios e muito choro das mulheres. Meu copila, novinho naquelas plagas, quase também chora; mas de medo; expliquei-lhe, conhecedor que era daqueles costumes indígenas, que o choro nada mais era que uma demonstração de alegria pela volta de entes queridos, regressando de tratamentos de saúde em Belém, Santarém, Manaus. Era sinal de que tudo estava bem, naquela aldeia solitária, cercada de milhares e milhares de araras azuis, papagaios, macacos, cachorros magros; os “hurros” dos homens não passavam “demonstrações de força”, como acontece com os “hurros” dos canhões nas guerras entre os Exércitos dos homens ditos “civilizados”; velhos tempos que não voltam mais..
Coronel Maciel.




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