CNH.
Depois de ter voado esse tempão todo, sem nunca ter, nem de
leva, arranhado nem uma das queridas e saudosas garças que voei. Depois de ter
dirigido meus carrinhos por este Brasil a fora, sem nunca ter maltratado nenhum
deles; nem a eles, nem a ninguém, desde
quando tirei minha carteira quando Aspirante em Natal, até chegar nesses meus
velhos cabelos brancos de 80 anos, nunca fui reprovado no exame para renovar a
carteira de motorista. Devo ter dado muito azar ao ser examinado pela
carrancuda examinadora que, sob risinhos da senhora que limpava o chão do local
do exame; e que com toda certeza sempre foi muito mal-amada pelo corno do
marido, fui reprovado no exame de ouvido e visão. Minha senhora, dizia eu: --
estou lhe ouvindo bem, mas não estou entendendo o que a senhora quer dizer, devido
a esse vidro que nos separa, e dessa grossa máscara que a senhora usa; e nem
dessas letrinhas que a senhora quer que eu leia, lá longe. Nas ruas onde dirigimos
as letras não são desses tamaninhos. Não adiantou de porra nenhuma os meus tímidos
apelos: -- Vá se tratar e volte aqui. Vejam
só, meus amados ouvintes; até ontem eu estava apto para dirigir; hoje não estou
mais. Foda-se, disse para mim mesmo; chega de humilhações. Ajudado pelos meus
80 anos, vou redobrar os cuidados; vou dirigir sem carteira, mesmo sabendo que
é crime. Foda-se! Mas fiquei assim pensando: da mesma maneira nós ficamos sujeitos
às vontades das “mais altas autoridades” que fazem o que querem com a vida da
gente. Puta merda! Ou melhor: --Puta que os pariu.
Coronel Maciel.
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