Há uns doze anos, fui
submetido a uma delicada operação para retirar um palmo e tanto do ramo ascendente
do meu intestino grosso; coitadinho; pensavam que era câncer. Eu estava numa
enfermaria do SUS, no meio de vários enfermos pobrezinhos como eu. A Base Aérea
queria me mandar para ser operado no Hospital da Força Aérea do Galeão, um dos
melhores lugares para se morrer na FAB.
Eu disse, já meio triste, para o diretor do Esquadrão de Saúde, que
morrer por morrer eu preferia morrer aqui mesmo em Natal; e disse mais: que o
problema não é o avião; o problema é o piloto: o piloto sendo bom, o avião não
cai! Assinei um documento livrando a Base de qualquer problema. Fui operado;
não era câncer. Fiquei bonzinho! Na enfermaria, na cama ao meu lado, estava um
paciente em estado “terminal”, que pedia, quase gritando, pois não tinha mais
forças para gritar, que queria logo morrer, de tanta dor que sofria. Pedi a
presença do médico, um estagiário ainda bem novinho, e perguntei porque eles
deixavam uma pessoa sofrer tanto assim, se era tão fácil ajudá-lo a morrer; a ter
uma morte digna! Hoje, os jornais publicam uma jovem chilena, com 19 anos,
dizendo que sofre tantas dores, de uma doença “desconhecida”, pedindo à
presidente do Chile para ajudá-la morrer de uma morte digna! Sei que só quem
sabe o valor do momento, é o agonizante, e durante nossas vidas pilotando
aviões já choramos a morte de tantos e tantos amigos; parecendo então e até que
nos acostumamos a conviver com a bruxa! Sei que só quem sabe o valor do momento
é o agonizante; sei que muitos entes queridos, tão velhos e tão doentes, pedem
perdão aos filhos por demorar tanto a morrer! Cada cabeça, uma sentença!
Eutanásia é crime, ou é “crime” prolongar as dores incuráveis de tantos sofrimentos?
Coronel Maciel.
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