Hoje
vou contar para vocês a história de uma bela mais bela que a bela adormecida
daqueles contos de fadas, que nossas avós contavam para nós fazer dormir... Lá,
no mais distante norte do Brasil, banhada pelo Rio Uaupés, um dos braços do
majestoso Rio Negro, vive a pequenina cidade de São Gabriel da Cachoeira. Hoje
nem sei se ainda é pequenina, ou se por lá já chegaram as drogas malditas! Sei
que construíram uma pista capaz de receber aviões supersônicos... De lá se
avista a “Bela Adormecida”, que alguém, não sei quem, mas algum grande artista,
um grande Deus lá colocou, dando-nos a perfeita imagem de uma virgem
adormecida...
Militares
que nunca serviram na Amazônia; que sempre serviram nos palácios encantados de
Brasília; sempre voando nos melhores aviões, pilotando os mais luxuosos e
sofisticados “Aero-Lulas”, agora “Aero-Dilmas”; sempre transportando altas
“otoridades”; sempre na “escuta” das melhores “bocas”, dos melhores comandos;
comissões no exterior, em fim, das grandes oportunidades nesta longa pra uns e
muito breve pra outros, misteriosa vida... Pois bem; são eles que nos gozam ao
dizer que quem gosta de mato é veado e de agulha magnética é o norte... Lógico
que estou brincando: tanto faz servir nos palácios encantados de Brasília, como
servir em qualquer outro lugar deste imenso Brasil. Estaremos sempre juntos e
sempre prontos a oferecer nosso sangue, ideais, o conforto das nossas famílias,
por este tão grande, tão amado e tão traído Brasil.
Era
uma vez, cumprindo uma das nossas muitas missões pelo norte do Brasil, sempre
no comando do meu corajoso e fiel amigo, o velho “Dakota—Douglas C-47”,
aguardando o embarque dos passageiros, -- e que tipo de passageiros: padres,
freiras, freirinhas, índios, índias, cachorros magros, médicos, remédios, rouxinóis,
araras, papagaios, jornais, velhas revistas, tudo de possível e inimaginável...
Fazia um calor daqueles, debaixo de um abrasador sol de meio-dia, quando uma
“voz ecoou”: -- Pega!!! – Pega um veado!... (era um veado mesmo, não desses
“viados” do kit-gay do PT rsrs...) e logo a cachorrada saiu em disparada
perseguindo o coitado. Sentindo-se acuado e perdido, ele voltou do meio da
pista de pouso, na direção de um cercado, onde eram armazenados tambores de
combustível. Pulou o cercado, mas deu azar, caiu de mau jeito, quebrando o
pescoço... O médico que fazia parte da tripulação me confirmou que para o caso
não havia mais remédio, sendo autorizado a sacrificar o animal, com um certeiro
tiro de uma “ponto 45” na cabeça...
Fiquei
na dúvida se prosseguia na missão, prevista para ir até Yauaretê, na “Cabeça do
Cachorro”, limites com a Colômbia, com vários pousos intermediários na rota,
levando “esperanças” para aqueles caboclos brasileiros das cidadezinhas ao
longo do Rio Uaupés, ou se encerrava a missão daquele dia. Resolvi prosseguir;
ordem de missão é ordem para ser cumprida! Mas antes de partir, chamei o
guarda-campo e dei-lhe a seguinte “ordem”: -- Deixar tudo pronto, aguardando o
nosso regresso, para um churrasco de carne de veado, regado com muitas
“cerpinhas”, a deliciosa cerveja dos paraenses.
Voltamos
de tardezinha, e à noite, nas margens do majestoso Uaupés, olhando ao longe o
adormecer da “Bela Adormecida”, iluminada por uma enorme lua cheia, saboreamos
o mais delicioso dos churrascos...
Que
saudades me dá daqueles meus velhos tempos de “arco e flecha”; sem GPS, radares
ou celulares; usando só o “tato” para nos guiar, sobrevoando a minha querida,
imensa e verdejante floresta amazônica! E saboreando tacacás e pato no tucupi
em Belém do Pará, minha doce cidade morena; caldeiradas de Tucunaré em
Santarém, nas margens das águas verdes do Tapajós ou suculentas tartarugadas em
Eirunepé, nas margens do Juruá...
Quantos
deliciosos pernoites... Quantos pernoites inesquecíveis...
Coronel
Maciel.