Fui
conhecer Ilhéus por culpa do Jorge Amado... Gosto muito de ler Jorge Amado.
Independente de suas posições ideológicas. “Terras do Sem Fim”, um romance que
tocou fundo no meu coração... “Capitães da Areia”...: mais de 800 “capitães”
foram devidamente incinerados, considerados que foram de propagar o “Credo
Vermelho”; isto nos idos de novembro de 1937. Na época da “Intentona
Comunista”. Não sei se o Jorge Amado morreu alinhado com esses nossos
comunistas tupiniquins...
Mas
vamos deixar um pouco de lado esse negócio de só ficar falando em política; de
só ficar metendo o pau na dona Dilma, e lembrar os meus velhos tempos na minha
querida Força Aérea Brasileira...
Uma
vez, faz é tempo, chegamos à bela Ilhéus para o pernoite, bem em cima da hora
do término das aulas de um colégio só de "meninas", que ficava bem
próximo ao aeroporto. Antes do pouso fizemos algumas estonteantes passagens baixas
sobre a cidade, avisando da nossa chegada... Pousamos; o aeroporto fervilhava
de “normalistas lindas”, que apreciavam as passagens baixas que também fizemos
sobre a pista de pouso. Alegria geral e descontraída.
Combinei
antes de sairmos do avião que o Bianchi, que fazia parte da tripulação, descendente
de italiano, figura “muito bem apessoado” -- deixaria de ser “Capitão-Capelão”,
para ser “Capitão--Aviador”... O Alcântara (grande piloto de C-47, ótimo amigo;
infelizmente faleceu logo depois, num trágico acidente com um Xavante, em
Natal) passaria a ser “Capitão-Capelão”... O Alcântara assumiu perfeitamente
suas "novas funções" (trocou a asinha pela cruz no macacão de voo). E
o Alcântara orava, rezava e benzia, e benzia, rezava e orava fazendo o sinal da
cruz na testa das meninas; um perfeito Cardeal... Mas tudo dentro do maior
respeito, tudo na maior brincadeira; tudo na maior gozação.
Logo
chegava ao aeroporto um simpático senhor dirigindo seu enorme carrão vermelho,
doido pra puxar conversa conosco. Dizia-se dono de um grande comércio de cacau,
e que era muito rico e tal e coisa e coisa e tal... Ficou acertado que ele viria nos buscar à
noite para uma boa “moqueca de peixe”, com muito uísque, cerveja, cachaça e
viola para quem quisesse e algumas lindas garotas para alegria do nosso
pernoite... “Uma festinha” que iria nos
oferecer, na sua bela mansão, bem em frente ao mar... -- Dizia-nos que sua
maior frustação na vida era não ter sido aviador da FAB e que sua maior ambição
era poder pilotar um avião particular, que pretendia comprar. Rico tem dessas coisas...
-- Eu, admirado, só fazia dizer que a minha maior ambição era um dia chegar
também a ser rico... – Um pouco rico e nada mais... -- Eu estava mesmo era
bolando uma “grande jogada” para alegrar nosso pernoite...
Não
deu outra; numa linda noite negra apagada, mas estrelada, lá estávamos nós,
alegres e satisfeitos, numa espécie de "Casa de Irene", bem em frente
ao mar, comendo e bebendo do melhor. Foi quando o Bianchi, depois de umas e
outras, (ótima pessoa, um grande amigo; um santo Capelão o Bianchi) me
perguntou:- - E agora, Major Maciel, eu sou o quê, qual o meu papel neste
teatro estrelado em frente ao mar? -- Eu respondi sério, mas em tom de
gozação:- - Ora, ora, ora Bianchi, você é nosso bom e santo Capelão... -- Faça
o que lhe mandar fazer o seu manso, doce e humilde coração...
Não
sei realmente o que aconteceu... Só sei dizer que de repente o Bianchi sumiu,
assim como sumiu uma das lindas garotas... -- Dizem que o Bianchi “ensandeceu”,
como ensandeceu o Poleá da “Mosca Azul” do Machado de Assis... Eu e o Alcântara, verdadeiros “românticos do
ar”, pegamos do manche e voamos rumo às estrelas... kkkkkkkkkk...
Coronel
Maciel. <cel_maciel@yahoo.com.br>