Quem dos aqui mais
antigos não voou o popular Beechcraft C-45? Aquele lindo avião americano,
bimotor, monoplano de asa baixa, de construção metálica, para cinco passageiros
e dois pilotos? Seu projeto era bem
convencional, exceto pela “deriva dupla”. Foi fabricado por mais de trinta
anos, entre 1937 e 1970, atingindo mais de 9.000 unidades. Na FAB, por razões
óbvias, ficou conhecido como “Beech Mata Sete”.
Eu e o Tomé Ribeiro
Neto éramos dois orgulhosos tenentes- aviadores! Decolamos de Barbacena (BQ)
para Congonhas. Após alguns minutos de voo, “monomotor”. Regressamos. Era um
dia de sábado, e a missão tinha caráter “improrrogável”. Deveríamos transportar
dois professores vindos da França, para uma conferência na Escola, para os
alunos e vários convidados especiais. O próprio Brigadeiro seria tradutor. (O
Camarão, além de Francês e outras línguas, falava e escrevia fluentemente o
Grego).
Foi quando ele me chamou e bem baixinho me disse assim:-
--“Fura – Bolo”, era assim que ele carinhosamente me chamava, pois eu, modéstia
à parte rsr, cumpria qualquer missão. “Bombardeio qualquer tempo”. -- Fura-Bolo,
pegue o Regente e me traga eles aqui:- - Mensagem à Garcia, Brigadeiro? Ele me
olhou, sorriu e confirmou com um sim, com aquela sua cabeça bem branquinha,
como hoje é a minha.
Congonhas estava
naquele “abre, não abre” para voo visual; operava "instrumentos". O Regente, vocês conhecem, né? Pois bem: Decolei e pousei em Congonhas, para
surpresa e incredulidade geral da nação! Apareceu logo um oficial muito mais
antigo que eu para me dizer o óbvio:- - que eu havia cometido uma grave
infração e que por ordem superior eu estava impedido de decolar. Nestas
alturas, com os franceses já a bordo, fiquei na dúvida até onde eu poderia
avançar. E avancei, colocando no plano de voo “Operação Militar”.
Era o ano de 1967. A
Revolução voava alto, distribuindo alegrias pelo Brasil inteiro!
Chegamos em Barbacena
bem em cima da hora para o início da tal conferência, para alegria do Camarão.
-- Missão cumprida, Brigadeiro! Mas... vem "bronca" por aí.
Contei-lhe tudo. Ele sorrindo me despreocupou.
Nesse ínterim, eu fui
transferido para Natal; e foi lá que eu recebi um "baita" de um
"deveis informar". O Coronel Comandante da Base não aceitou minhas
risíveis justificativas:- -"Teje preso"...
Eu estava escalado para
uma missão com destino ao Rio, no dia seguinte. O Coronel, não autorizou; eu
estava preso! E só depois muita conversa, ponderações, etecetera e coisa e tal deixou-me ir, autorizando também um pouso
rápido em BQ. Em lá chegando, após aquele famoso aperto de mão tipo “quebra
dedos” e após me ouvir, disse sorrindo:- - Pode seguir tranquilo, Fura Bolo.
Deixa comigo.
Chegando em Natal, o
Coronel me olhou assim meio sem jeito, me
dizendo que estava “tudo resolvido”.
Grande Brigadeiro Camarão.
Nunca me deixaria na mão.
... "Quantas saudades eu
tenho da aurora da minha vida"...
2 comentários:
Olá Coronel
Meu nome é Geraldo Alves Sant'Ana Sou de Barbacena e servi na ECAR (Alves 71/59) como S2 e S1 de 71 a 73
Lembro bem do Brigadeiro Camarão, e se o Tomé que o sr se refere for o Ten Tomé que infelizmente faleceu no acidente com um T6 nos terrenos da Escola Agrícola recordo bem dele até como jogador do Olypinc Club. Parabéns pelo Blog.
Muito obrigado, Geraldo Alves! É esse mesmo o nosso saudoso Tenente Tomé!
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