Resolvi também baixar o
tom das minhas “delações não premiadas”.
Volto aos meus bons tempos de tenente “Pica- fumo”, quando passava
horas, dias, meses, anos “ao vento”, dando instrução de voo no Estágio Avançado
para os cadetes do último ano, na recém-criada Academia da Força Aérea, em Pirassununga.
Eram quatro, cinco duplos por dia: partida do motor, rolagem, decolagem;
subida, manobras, acrobacias; voo de grupo, no dorso; mais acrobacias; descida
para o pouso, “pilofe”: -- Baixe o trem de pouso, cadete! -- Pousar sem trem é
o mesmo que perder pênalti! -- Aprende-se muito ensinando os outros a voar. Há
de se estar sempre atento; de “olho vivo no inimigo”; o primeiro descuido pode
ser o último.
Aqueles que voassem
mais recebiam como premio passar o fim de semana na sua cidade preferida.
Natal, a minha preferida. E lá ia eu, sozinho, solitário, voando de dia e de
noite. Ora voando a favor, ora contra os ventos; ora olhando a lua, o olho frio
dos céus; ora “namorando” as Plêiades, as sete irmãs da constelação “Touro”.
Aldebarã, Belatrix; as Três Marias, no cinturão do Orion. Sirius, Canopus. Mas como tudo aquilo me embriagava com sua
beleza. Por alguns momentos esquecia-me de mim mesmo; esquecia até da minha
própria vida; sentia-me livre e como que dissolvido no vento e nas frias águas
das chuvas. Quantas vezes eu colocava a mão para fora da cabine, e os pingos
mais pareciam alfinetadas. Recolhia um pouco daquelas águas geladas e passava
no rosto, para matar o sono. Sentia-me livre e além, muito além dos temores
pequeninos e das mesquinhas ambições humanas. O “piloto automático” era as
minhas mãos já cansadas, mas segurando firme o “manche” do meu sempre fiel
amigo, o meu saudoso “NA T-6”...
Coronel Maciel.
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