Vicente Carvalho,
grande poeta pensador, dizia nos seus antigos versos que a felicidade existe,
sim: -- Mas nós não a alcançamos /Porque está sempre apenas onde a pomos / E
nunca a pomos onde nós estamos.
Eu, um sonhador Capitão-Aviador,
pilotando meu velho “Dakota C-47”, acabava de pousar em Amapá, uma cidadezinha
bem pequenina ao norte de Macapá, no rumo de Oiapoque, lá no extremo norte do
Brasil, à serviço do Correio Aéreo Nacional da Amazônia. Erguida ao lado da
também pequenina pista de pouso, estava uma barraca de “Sobrevivência na Selva”,
desta que costumávamos levar para o caso de pouso de emergência na interminável,
linda e perigosa selva amazônica. Surpreso, indaguei do sargento comandante do
Destacamento quem seriam seus felizes habitantes: um casal de “hippies assim
meio adoidados” que há poucos dias resolveu lá erguer seu novo lar. -- Fui lá, devagarinho, bem devagarinho, bater
um papo com aquele casal de “adoidados”.
Vocês jamais poderiam
imaginar quem: -- Era o “Pi”! -- o meu amigo Pi; o aluno 57-39 João Baptista
Vieira de Souza, que, cansado de pilotar
sempre e eternamente pra lá e pra cá um novíssimo B-727 da VARIG, pedira suas
contas, como pedira da FAB, e resolvera,
sempre acompanhado da sua amada digníssima, passar o resto de suas noites e dias vivendo de amores sussurrados pelos ventos...
Após um longo e
fraternal abraço, aproveitamos para dar um balanço em nossas vidas: -- eu,
continuava a ser um ébrio-piloto-sonhador-apaixonado; ele, um
ex-capitão-aviador, que, cansado de pilotar os melhores aviões do mundo, aviões
que eu vivia sonhando pilotar; ele, agora olhando com saudades o meu velho amigo
Dakota -- Eu, sonhando em ser um “Comandante Internacional da VARIG”; ele me
dizendo que daria tudo para voltar a ser outra vez um anônimo, pobre,
paupérrimo, capitão- aviador.
Como na vida a rotina sempre
cansa, o meu amigo “Pi” também cansou de
ser “hippie” e voltou a voar, agora
piloto de helicóptero, à serviço da PETROBRÁS, quando a “bruxa” enamorou-se dele, caiu no mar no
litoral do Rio Grande do Norte e hoje ele voa, ou “ergueu sua barraca” nos ares
dos nossos céus sempre estrelados.
Coronel Maciel.
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