quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

EM AVIAÇÃO ERRAR É DESUMANO!


Meu último pouso!
Em aviação, errar é “desumano”, e só o perfeito é aceitável! Então, amados ouvintes, como me foi possível, estar ainda vivo, eu, que me considero o mais “desumano” e o mais “imperfeito” dos pilotos do mundo? Ah, se fosse agora lhes contar todas as “leãozadas” que fiz durante minha longa trajetória existencial pelos ares do Brasil; eu, que sempre fui muito mais “Aviador” que “Oficial”; eu, que bati o “récorde” de voo monomotor nos meus corajosos e heroicos Dakotas C-47, mais de duas longas horas, sobrevoando o rio “Juruá”, depois que a tampa de um dos enormes cilindros do motor esquerdo voou, levando consigo parte da carenagem; quando o meu copiloto, coitado, um tenente novinho da reserva desmaiou, “pálido de espanto”, como nos versos do “Bilac”, dizendo que íamos morrer, o que fez “mecânico” correr e abrir sua malinha, retirar sua garrafa de “51”, sua inseparável companheira, e  olhando para mim, “decidiu”:-- Já que vamos morrer, não é, Capitão Maciel, dando  sua mais gostoso e risonha talagada! Tive que ri. Mas foi ele quem realmente me ajudou durante aquelas longas e inesquecíveis horas; e agora o mais “incrível” da história: após o pouso, feito na hora do lusco-fusco, em Eirunepê, uma verdadeira pérola nas margens do “Juruá”, fui carregado como herói pelos agora risonhos e alegres passageiros. Passaria a vida inteira contando “meus casos”; mas como o meu tempo é curto vou contar rapidamente meu último voo, voando num “Bandeirante” de uma pequena companhia de aviação, onde voei durante meus últimos anos; foi assim:  no bloqueio de João Pessoa, com o avião superlotado da carga, voando na direção de Natal, o motor esquerdo pegou fogo! Chovia muito; relâmpagos, trovões. Neste caso, também e felizmente, o meu copila desmaiou, dizendo que íamos morrer, o que me deixou, sozinho como eu gosto, para tomar minhas as decisões. Imaginei então um procedimento de descida em JP, cuja pista e direção dos ventos é igual a Natal; para encurtar a história: -- De repente, e não mais que de repente, dei de cara com o prolongamento da pista; eu mesmo baixei o trem e eu mesmo baixei os flaps, e fiz o meu mais maravilhoso e último pouso da minha vida. O copiloto, coitado, então me disse: -- Comandante, eu bem que mereço que o senhor me dê umas porradas; me desculpe. Rindo, nos abraçamos...
Coronel Maciel.

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