Meu último pouso!
Em aviação, errar é “desumano”,
e só o perfeito é aceitável! Então, amados ouvintes, como me foi possível, estar
ainda vivo, eu, que me considero o mais “desumano” e o mais “imperfeito” dos
pilotos do mundo? Ah, se fosse agora lhes contar todas as “leãozadas” que fiz
durante minha longa trajetória existencial pelos ares do Brasil; eu, que sempre
fui muito mais “Aviador” que “Oficial”; eu, que bati o “récorde” de voo monomotor
nos meus corajosos e heroicos Dakotas C-47, mais de duas longas horas, sobrevoando
o rio “Juruá”, depois que a tampa de um dos enormes cilindros do motor esquerdo
voou, levando consigo parte da carenagem; quando o meu copiloto, coitado, um
tenente novinho da reserva desmaiou, “pálido de espanto”, como nos versos do “Bilac”,
dizendo que íamos morrer, o que fez “mecânico” correr e abrir sua malinha,
retirar sua garrafa de “51”, sua inseparável companheira, e olhando para mim, “decidiu”:-- Já que vamos
morrer, não é, Capitão Maciel, dando sua
mais gostoso e risonha talagada! Tive que ri. Mas foi ele quem realmente me
ajudou durante aquelas longas e inesquecíveis horas; e agora o mais “incrível”
da história: após o pouso, feito na hora do lusco-fusco, em Eirunepê, uma
verdadeira pérola nas margens do “Juruá”, fui carregado como herói pelos agora
risonhos e alegres passageiros. Passaria a vida inteira contando “meus casos”;
mas como o meu tempo é curto vou contar rapidamente meu último voo, voando num “Bandeirante”
de uma pequena companhia de aviação, onde voei durante meus últimos anos; foi
assim: no bloqueio de João Pessoa, com o
avião superlotado da carga, voando na direção de Natal, o motor esquerdo pegou
fogo! Chovia muito; relâmpagos, trovões. Neste caso, também e felizmente, o meu
copila desmaiou, dizendo que íamos morrer, o que me deixou, sozinho como eu
gosto, para tomar minhas as decisões. Imaginei então um procedimento de descida
em JP, cuja pista e direção dos ventos é igual a Natal; para encurtar a
história: -- De repente, e não mais que de repente, dei de cara com o
prolongamento da pista; eu mesmo baixei o trem e eu mesmo baixei os flaps, e
fiz o meu mais maravilhoso e último pouso da minha vida. O copiloto, coitado,
então me disse: -- Comandante, eu bem que mereço que o senhor me dê umas
porradas; me desculpe. Rindo, nos abraçamos...
Coronel Maciel.
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