Você crê em Deus, Capitão?
Foi a pergunta que uma vez me fez Frei Angélicus, um
frade alemão que vivia nos Tiriós, uma
tribo de índios perdida lá nos nortes do meu Estadão do Pará, onde havia um
pequeno Destacamento de Proteção ao Voo da FAB; e onde eu gostava de pernoitar.
Era quando eu levava dúzias e mais dúzias de “Cerpinha”, a cerveja que os
paraenses gostam, e que eu sabia que
Frei Angélicus também gostava; ele me “pagava” com um bom conhaque
alemão, que ele sabia que eu também gostava; e ficávamos “filosofando” noites
inteiras; eu, com os meus 30 anos; ele
com seus mais de 60: -- Não, respondi;
não creio, nem acredito. Mas quando criança eu acreditava muito. Grande pecador que eu era, tinha muito medo das
labaredas dos infernos! Foi quando aprendi ajudar missas; missas em Latim, lá
na “Capelinha de Lurdes”, pertinho lá de
casa. -- Nem quando você pilota esses seus aviões, voando em céus iluminado por
relâmpagos? – Nessas horas o que eu sinto mesmo é saudades de casa, da mãe e
dos meus filhos; nessas horas eu penso em Deus; não nesses “Deuses” criados
pelos homens, como aqueles deuses mitológicos dos Gregos e Romanos, hoje
completamente desacreditados; o meu Deus é aquele “cara” que está agorinha
mesmo sentado na sua enorme poltrona
estofada, no mais profundo infinito, e muito mais preocupado em manter em
equilíbrio suas enormes “Galáxias”, do que preocupado com a gente, aqui nos
“Tiriós”; quando então dávamos as mais gostosas gargalhadas, ébrios de cervejas
e de um bom conhaque alemão...
Coronel Maciel.
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