É doce
viver assim.
“Tem certos dias” quando a tristeza vem chegando, querendo
tomar conta da gente. É nesses dias que vou saindo por aí, dirigindo com todo cuidado,
agora que estou sem CNH, depois que uma filha de uma égua, caçou minha carteira,
dizendo que sou “cego e surdo”, e pra voltar só depois de curado. -- Mas minha
senhora, pilotei avião durante minha vida toda; nunca arranhei nenhum; nunca
matei, nem nunca atropelei ninguém no trânsito, e só agora a senhora vem com
essas exigências todas? -- Não importa;
só volte aqui depois de curado, ela disse mangando e rindo para uma empregada
que limpava o chão. Me deu vontade de dar-lhe “umas porradas”, mas depois pensei: em mulher
não se bate, se deixa! Melhor dirigir fora da lei; o resto que “phoda” Não
voltei, nem nunca vou voltar. Logo em
seguida fui na “Redinha”, relaxar e bater um papo com meus amigos pescadores,
alguns também “Fora da Lei”. Fui conversar com dona “Cilândria”, dona do “Bar
Azul”, que me perguntou se eu “ainda bebia”. Só se for muito! Então aproveite
para beber minha batida de “Pitanga”, feita especialmente para você, disse, explodindo
numa gostosa gargalhada! Tomei uma; tomei duas, tomei três, quando olhei, vi, pendendo
na parede um velho violão. Perguntei se podia tocar, e logo estávamos cantando,
acompanhado pela “Mariazinha”, sua sobrinha, cantando assim pra gente:
----Praieira dos meus amores/
Encanto do meu olhar! /Quero contar-te os rigores /Sofridos a pensar / Em ti
sobre o alto mar... / Ai! Não sabes quantas saudades/ Padece o nauta ao partir/
Sentindo na imensidade/ O seu batel fugir,/ Incerto do porvir!
É doce viver assim...
Coronel Maciel.
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