Todos nós sabemos, e
isto nós ficamos sabendo desde “criancinhas”; desde quando entramos nas Escolas
Militares; desde os tempos de cadetes que greve não se coaduna com a vida
militar. Quando um militar não concorda com determinada ordem ele pode
“ponderar”, pode até revoltar-se e acabar cadeia. Mas a vida militar não perdoa
e nos obriga a cumprir ordens! Ou então, “pedir as contas”; deixar a sua função
ou o seu cargo, ir embora, mas sempre se responsabilizando por todos os seus
atos!
Mas acabo de receber um
e-mail informando que um corajoso deputado federal; corajoso e sensibilizado
com nosso atual estado de penúria; falando grosso para todo o mundo ouvir, lá do
alto da tribuna da Câmara dos Deputados que “já não se faz mais generais como
antigamente” e que é “frouxidão” das Forças Armadas aceitar que um “carcereiro”
ganhe mais que um general de exército!
Bom; não sei se ele
quis se referir somente aos nossos generais ou ao conjunto dos militares das Forças
Armadas. Meu neto ouviu, e não acreditou! Nem eu! Tornei a ouvir a gravação e
era verdade! Disse ao meu neto, assim meio sem jeito, envergonhado mesmo, que
eu, assim como a grande maioria dos nossos militares, do general ao mais
recruta dos nossos soldados, que nós não somos frouxos não! E se os nossos
comandantes não tomaram uma atitude para rebater tal afirmação, dá realmente a
impressão que eles são realmente frouxos...
Sabe-se muito bem que
determinadas classes de trabalhadores conseguem o que querem e quando querem; é
só entrar em greve! Carteiros, bancários, motoristas de ônibus, de metrôs;
trens da Central e até mesmo essas meninas “desonestas” que ficam por aí, balançando
suas bolsinhas...
Já outras classes, não
e nunca! - Por exemplo: os professores. Principalmente as nossas sofridas e
queridíssimas “professorinhas”. Essas podem passar meses e mais meses em greve
que ninguém liga; só os desesperados pais preocupados com o futuro dos
filhos... -- E os sofridos, mal pagos, deserdados, sacaneados, mas sempre
obedientes e disciplinados militares -- por que não entram também em greve? –
Mas, porra! -- alguém pode argumentar. -- Vocês vivem em greve! – Vocês passam
a vida toda em greve! -- O que é que vocês fazem dentro desses enormes quartéis,
atravancando o trânsito nas grandes cidades? -- O que é que vocês fazem dentro
desses charmosos fortes, Copacabana, Urca, ou bronzeando-se junto às mais belas
morenas nas praias ensolaradas, em vários outros fortes, ao longo do imenso
litoral brasileiro? Ou pilotando esses velhos aviões supersônicos, quebrando as
vidraças do STF, acordando seus dorminhocos juízes sem juízos? Ou dentro desses
vagarosos submarinos? Desses obsoletos tanques de guerra? Vocês não fazem nada mesmo a não ser estudar,
estudar e estudar; marchar, marchar, marchar e fazer bolourados planos de
guerra contra os nossos eternos inimigos, os argentinos. Só mesmo quando
acontece alguma dessas cíclicas e esperadas enchentes; quando acontecem essas dolorosas
tragédias aéreas que estão se repetindo assustadoramente; ou quando entram em
guerras (guerras? – que guerras? -- o Brasil nunca entra em guerra; só os
“americanos”...) é que vocês decidem fazer alguma coisa... -- Pra que então
manter essa ruma de generais, coronéis, sargentos, cabos, soldados, taifeiros?...
-- Pois é; é somente nessas horas que nós somos lembrados. Para meter um pouco
de ordem no Brasil, como em 64...
A única classe de
militares que realmente preocupa quando “entram em greve” é a dos controladores
de vôo. Essa quando vem, vem lascando o cano... -- Basta um dia parado para que
se estabeleça o caos em todas as aerovias. Caos total. Caos no Brasil inteiro.
Se fossem controladores civis conseguiriam tudo, na mesma hora! Mas, em sendo
militares, o que conseguem é levar muita porrada, cadeia, pau nas costas, pau
na moleira, pau na mulher, nos filhos, nos avós, para não dizer pau na puta que
o pariu!...
Porra, agora sou eu
quem pergunta, do alto da minha tribuna: -- Só nos resta então aceitar tudo
caladinhos? – Caladinhos, humilhados, ofendidos, de calças na mão, esperando a
naba chegar?
É por essa e outras que estão chamando os
nossos generais de frouxos e por tabela todos nós das Forças Armadas. -- Arre
égua!... Nem no Iraque...
Coronel Maciel.