Estávamos nos idos dos
anos 80, fazendo uma "PURUÁ", “simbiose” das linhas Purus e Juruá. Aguardávamos
uma troca de cilindro no "meu" possante C-47, na cidade de Eirunepé, uma
pequenina pérola situada do sinuoso Rio Juruá.
No dia anterior, acontecera um trágico
acidente aéreo em Tabatinga, com um avião comercial. Alguns dos sobreviventes
residiam em Eirunepé. Seus familiares e parentes me pediam, desesperados, para levá-los
ao local do acidente. Não havia previsão
para o término do serviço de troca do cilindro. Mas, estacionado no pátio,
encontrava-se um monomotor novinho em folha, aguardando não sei o quê para
decolar. Ali estava a solução do problema.
Indaguei do piloto
sobre a possibilidade de fazer aquela missão humanitária. Negativas, desculpas esfarrapadas,
e tal e coisa e coisa e tal, e com o prefeito oferecendo elevada quantia pelo
serviço. Mas nada de pelo menos comover o piloto. Comecei a desconfiar. (As aparências não me
enganam...) Para encurtar a história: depois de muito “zum-zum-zum”, correu um “bizu”
dizendo que o avião poderia estar transportando drogas. Não deu outra; descobrimos
duzentos quilos de pasta de cocaína escondidos no piso do avião.
Novembro de 2013.
A família do senador Zezé Perrella (PDT-MG) vai perder o
helicóptero Robinson R66, flagrado com 442 kg de cocaína. O piloto era
empregado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, sob os auspícios do
deputado estadual Gustavo, também “Perrella”, muito jovem ainda: 28 anos. O
pagamento do “querosene” que reabastecia o “Robinson R66” era feito com verba
indenizatória da Assembleia Legislativa, para uso pessoal do deputado.
Mas isso não é nada se
“comparado com a imortalidade da alma”. -- Um Hércules C-130 da minha querida
Força Aérea Brasileira, tempos atrás, (1999) também foi flagrado transportando
cocaína para Europa. O avião, pertencente ao Primeiro Grupo de Transportes
sediado na Base Aérea do Galeão, havia decolado de Recife, para um pouso
intermediário em Las Palmas, quando recebeu ordens para regressar. Imagino “o
frio na alma” que sentiram os pilotos com essa inusitada ordem; bem como fico a
imaginar que, caso todos da tripulação estivessem envolvidos na perigosa
“manobra”, poderiam ter alijado a fatídica carga no mar, para drogar os alegres
tubarões.
Não sei qual foi o
“futuro” dos os pilotos da FAB, que transportavam (sem saber... disseram eles)
cocaína para Europa. Nem com o piloto do
caso acontecido em Eirunepé. Não sei; não sei.
Nem sei o que acontece
quando deputados e senadores são flagrados utilizando os jatinhos da FAB, para
passeios com seus namorados e suas queridas namoradinhas. Nem o que “acontece”
nos longos e caros passeios turísticos do Aero-Lula, hoje Aero-Dilmão, ao redor
do mundo. -- Quem dos senhores poderia me informar?
Felizes somos nós, pobres
militares muito mal remunerados, mas satisfeitos com o pouco que tem, e que não
gostam de se meter em “frias”...
Coronel Maciel.