Foi na época de um
terrível acidente com um B-727 da Trans--Brasil, em Florianópolis. Naquela
mesma semana fomos acionados para uma missão de resgate, decolando de Recife
num Hércules C-130 do GAV-6, direto à Floripa; e de lá direto para Rio Branco,
no Acre, transportando um helicóptero H1H, para executar o resgate de duas
vítimas que estavam num monomotor acidentado num local de tão difícil acesso
que todos os esforços com os recursos locais se mostraram insuficientes.
A aeronave acidentada
estava regressando dos EUA, onde fora adquirida por um rico fazendeiro
residente no interior de São Paulo; o acidente ocorrera há uns quatro dias. Fui
como "observador curioso" observar o resgate feito pelo H1H. O piloto acidentado era um jovem instrutor de voo
de Aeroclube, com pouquíssima experiência de voo, e que nunca havia sobrevoado
a densa floresta Amazônica. Era a
primeira vez que fazia uma viagem tão longa e difícil. Os dois estavam por
demais abatidos, física e moralmente. Mas também, pudera: depois de passar
quatro longos dias e noites sendo ameaçados por cobras, urubus, jacarés;
levando ferroadas de bilhões de mosquitos que os atacavam em voos de
esquadrilhas por todos os lados e ângulos; um verdadeiro inferno.
No regresso para o aeroporto,
todos sãos e salvos, ficamos conversando com o piloto, que, coitado, procurava
se desculpar de suas falhas operacionais, enquanto era severamente criticado
pelo rico fazendeiro, que o acusava de ser um despreparado e haver perdido o
controle, tanto de si, como da aeronave, novinha em folha; zero KM, que ficou
atolada no brejo.
Eu só fazia ouvir, mas aos poucos fui ficando
do lado do acuado piloto; eles praticamente haviam ressuscitados do inferno.
Após ouvi-los, me posicionei do lado do piloto,
sempre na defensiva dos ataques do fazendeiro, que era, além de rico, arrogante
e autoritário, chegando ao ponto de querer que nós voltássemos ao local do
acidente para ele retirar seus documentos que havia esquecido no avião.
Achei-lhe uma graça...
Chegando ao aeroporto,
ele saiu em disparada para o bar, onde se serviu de generosas doses de uísque,
e só depois conseguiu relaxar um pouco. Despedimo-nos e decolamos de volta para
Floripa e Recife.
Não seria o caso da FAB
ser reembolsada pelo muito que foi gasto naquela longa e caríssima missão?
Coronel Maciel.
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