terça-feira, 5 de novembro de 2013

Economia de palitos!


Foi na época de um terrível acidente com um B-727 da Trans--Brasil, em Florianópolis. Naquela mesma semana fomos acionados para uma missão de resgate, decolando de Recife num Hércules C-130 do GAV-6, direto à Floripa; e de lá direto para Rio Branco, no Acre, transportando um helicóptero H1H, para executar o resgate de duas vítimas que estavam num monomotor acidentado num local de tão difícil acesso que todos os esforços com os recursos locais se mostraram insuficientes.

A aeronave acidentada estava regressando dos EUA, onde fora adquirida por um rico fazendeiro residente no interior de São Paulo; o acidente ocorrera há uns quatro dias. Fui como "observador curioso" observar o resgate feito pelo H1H.  O piloto acidentado era um jovem instrutor de voo de Aeroclube, com pouquíssima experiência de voo, e que nunca havia sobrevoado a densa floresta Amazônica.  Era a primeira vez que fazia uma viagem tão longa e difícil. Os dois estavam por demais abatidos, física e moralmente. Mas também, pudera: depois de passar quatro longos dias e noites sendo ameaçados por cobras, urubus, jacarés; levando ferroadas de bilhões de mosquitos que os atacavam em voos de esquadrilhas por todos os lados e ângulos; um verdadeiro inferno.

No regresso para o aeroporto, todos sãos e salvos, ficamos conversando com o piloto, que, coitado, procurava se desculpar de suas falhas operacionais, enquanto era severamente criticado pelo rico fazendeiro, que o acusava de ser um despreparado e haver perdido o controle, tanto de si, como da aeronave, novinha em folha; zero KM, que ficou atolada no brejo.

 Eu só fazia ouvir, mas aos poucos fui ficando do lado do acuado piloto; eles praticamente haviam ressuscitados do inferno.

 Após ouvi-los, me posicionei do lado do piloto, sempre na defensiva dos ataques do fazendeiro, que era, além de rico, arrogante e autoritário, chegando ao ponto de querer que nós voltássemos ao local do acidente para ele retirar seus documentos que havia esquecido no avião. Achei-lhe uma graça...  

Chegando ao aeroporto, ele saiu em disparada para o bar, onde se serviu de generosas doses de uísque, e só depois conseguiu relaxar um pouco. Despedimo-nos e decolamos de volta para Floripa e Recife.

Não seria o caso da FAB ser reembolsada pelo muito que foi gasto naquela longa e caríssima missão?

Coronel Maciel.

 

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