Vou
contar para vocês como eram os nossos pernoites na majestosa floresta Amazônica!
Lá, no mais distante norte do Brasil, banhada pelo Rio Uaupés, um dos braços do
Rio Negro, vivia a pequenina cidade de São Gabriel da Cachoeira. Hoje nem sei
se ela é ainda pequenina! Sei que a Força Aérea Brasileira, usando a força dos
anônimos militares e civis da COMARA, a que “Constrói”, construiu no meio da
portentosa floresta uma pista capaz de receber aviões supersônicos! De lá se
avista a “Bela Adormecida”, uma montanha que alguém; algum grande artista, um
grande poeta, um grande Deus lá colocou, dando-nos a imagem de uma virgem
adormecida.
Uma
vez, cumprindo uma daquelas longas missões pelo norte do Brasil, sempre no
comando do meu corajoso e fiel amigo, o velho “Dakota—Douglas C-47”, aguardando
o embarque de exóticos passageiros: padres, freiras, freirinhas, índios,
índias, cachorros magros, médicos, remédios, rouxinóis do Rio Negro, araras,
papagaios, jornais, velhas revistas, poesias e imaginações. Fazia um calor
daqueles, debaixo de um sol abrasador de meio-dia, quando uma “voz ecoou”: -- Pega!!!
– Pega o veado! (Segundo o FHC, dona
Dilma quando rouba, costuma dizer: -- Pega Ladrão...kkkk).
Era um “veado”
mesmo! Logo a cachorrada magra, mas ágil, saiu em disparada perseguindo o
coitado. Sentindo-se acuado e perdido, ele voltou do meio da pista de pouso, na
direção de um cercado, onde eram armazenados tambores de combustível. Pulou o
cercado, mas deu azar, caiu de mau jeito, e quebrou o pescoço. Para o caso não
havia mais remédio; para evitar mais sofrimentos sacrificamos o animal com um
certeiro tiro de uma “ponto 45” na cabeça.
Fiquei
na dúvida se prosseguia na missão, prevista para ir até Yauaretê, na “Cabeça do
Cachorro”, limites com a Colômbia, com vários pousos intermediários na rota,
levando “esperanças” para aqueles caboclos brasileiros das cidadezinhas ao
longo do Rio Uaupés; ou se encerrava a missão daquele dia. Resolvi prosseguir;
ordem de missão é ordem para ser cumprida! Mas antes de partir, chamei o
guarda-campo e dei-lhe a seguinte “ordem”: -- Deixar tudo pronto, aguardando o
nosso regresso, para um churrasco de veado, regado com “cerpinhas”, cachaça e
viola...
Voltamos de
tardezinha, e à noite, nas margens do Uaupés, olhando ao longe os primeiros
cochilos da “Bela Adormecida” iluminada pelo clarão lua, saboreamos o mais
apetitoso churrasco.
Quantas saudades
daqueles velhos tempos da aviação romântica; aviação de “arco e flecha”; sem
GPS, sem radares, celulares; usando só o “tato” para nos guiar, sobrevoando a imensa
e verdejante floresta amazônica; saboreando tacacás, patos no tucupi,
caldeiradas de tucunaré, nas margens das águas verdes do Tapajós ou suculentas
tartarugadas em Eirunepé, nas margens do Juruá. Quantos deliciosos, inesquecíveis
pernoites...
Coronel
Maciel.
Um comentário:
Lendo esta matéria fico com água na boca......saudades de um Brasil que talvez não venhamos a ver novamente!
Um grande e respeitoso abraço.
Flávio
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