“Meu filho foi embora e
eu não o conheci. Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo.
Agora, que sua ausência me maltrata, é que vejo como era necessário tê-lo
conhecido melhor. Lembro-me dele. Lembro-me bem, mas de bem poucas ocasiões. Um
dia, na sala, ele me puxou a barra do paletó e me fez examinar seu pequenino
dedo machucado. Fiz um exame rápido. Outra vez me pediu que lhe consertasse um
brinquedo velho. Eu estava com pressa e não tinha tempo para consertar
brinquedos. Mas lhe comprei um brinquedo novo. No dia seguinte, quando entrei
em casa, lá estava ele deitado no tapete, dormindo abraçado ao brinquedo velho.
O novo estava esquecido num canto qualquer. Eu tinha um filho e agora não o
tenho mais, porque ele foi embora. Este meu filho, uma noite, me chamou e disse:
- - Fica comigo. Só um pouquinho, pai. Eu não podia, mas a babá ficou. Eu era um
homem muito ocupado. Meu filho foi embora. Foi embora e eu não o conheci. ”
Esta verdadeira
“pérola” é o espelho da alma de um grande escritor; de um verdadeiro ser
humano. Não conheci pessoalmente “o França”, como seus amigos e contemporâneos
o chamavam. Sei que ele ingressou na FAB
pelos portões da EPC do AR em 1953, quando tinha 17 anos. Eu cruzei aqueles
mesmos portões em 1957. França era
mineiro da cidade do Serro. Anos depois fiquei sabendo que ele teve sua
carreira interrompida durante a revolução de 64. Não sei quais os verdadeiros
motivos dessa brusca interrupção. De novo na vida civil, após vários insucessos
em diferentes ramos, França começou a dedicar-se à literatura. Ganhou o
“Walmap” em 1967. Passei a conhecer realmente o França ao ler o seu livro
“Jorge, Um Brasileiro”, grande livro, que serviu de inspiração para a série
“Carga Pesada” na televisão. No auge da sua produção literária, Oswaldo França
Jr falece num acidente de carro na estrada de João Monlevade, MG, em junho de
1989. Hoje acabei de reler o seu grande livro, e me lembrei de prestar esta
justa homenagem àquele que foi um antigo e desconhecido aluno de BQ, entre
tantos outros que já cruzaram os portões da minha e da nossa mui querida Escola
Preparatória de Cadetes do Ar.
Coronel Maciel.
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