Recordações... Mas
antes, gostaria de perguntar aos meus “amados ouvintes”:- - O Maranhão é o
retrato do Brasil; ou o Brasil é o retrato do Maranhão?
A imensa floresta lá
embaixo; imenso mar-verde; milhões e milhões de árvores enormes espalhando
sombras para bilhões de insetos e animais silvestres, dificultando a nossa
navegação. Alguns rios, riachos,
igarapés constantes nas cartas de navegação aérea WAC estavam também encobertos
pelas sombras das imensas castanheiras. O que seria de nós, pálidos navegantes
dos prados do luar, se fossemos
obrigados a um pouso forçado naquele verdadeiro inferno verde? Nem pensar.
Naqueles tempos, tempos
da aviação romântica, aviação de arco e flecha, sem o auxílio desses fabulosos
GPS, como era fácil os pilotos se perderem naquela imensidão. Muito mais difícil
era “se achar” depois.
Estávamos indo de
Manaus para Forte Príncipe da Beira, transportando uma comitiva do Exército. Em
lá chegando, com o general confortavelmente sentado na cadeira do meu copiloto,
ficamos sobrevoando aquele Forte, construído nos últimos anos do século XVIII.
E fiquei matutando como foi possível trazer as cantarias de Belém, rios acima;
os enormes canhões de bronze; as pedras,
pois naquelas margens do Rio Guaporé pedras não existem; que tarefa titânica;
sem paralelo; sem a COMARA, a incansável Comissão para Construção de Aeroportos
na Região Amazônica; sem os nossos possantes cargueiros Hércules C-130;
enfrentando as febres equatoriais; enfrentando as arremetidas dos castelhanos.
Porém nada conseguiu impedir que brasileiros e portugueses, de mãos dadas,
levassem a cabo este incrível empreendimento da história da nossa colonização.
Pousamos e fomos
recebidos pelo Tenente Comandante do Pelotão. No almoço, uma grande surpresa:
-- Como o Tenente havia conseguido aquelas pedras? -- Pedras que serviam de
piso, num improvisado "restaurante" nas margens do Guaporé.
No almoço, fomos
brindados com suculenta tartarugada. Foi quando o General começou a ficar
vermelho e dominado por justificado assombro, quando o Tenente informou que
havia tirado aquelas pedras "daquele Forte, ali abandonado". -- E
estas tartarugas? -- Não sabe que está proibida a pesca?
Silêncio geral e
desconfortável. Tentando aliviar a situação tão embaraçada do Tenente, eu disse
ao general que se nós não pegássemos as tartarugas os Bolivianos, do outro lado
do rio, iriam se fartar sozinhos - - Explica, mas não justifica, capitão
Maciel. -- Vou levar este fato ao
conhecimento do Presidente Figueiredo, meu colega de turma, meu amigo
particular, e haveremos de restaurar este Forte; aliás, o único quadro, pintado
a óleo, que existe no meu Gabinete: -- Uma ótima ideia, General, disse eu
tentando aliviar as tensões, mas meio desconfiado e temeroso de levar também
uma boa “mijada”.
No dia seguinte
decolamos para visitar outros Pelotões de Fronteiras. Durante o voo fiquei
imaginando como é dura a vida naqueles longínquos Pelotões de Fronteiras.
Coronel Maciel.
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