Momentos de solidão.

Dia destes perguntei a um velho amigo coronel-aviador, hangarado e “inútil” como eu, mas que também gosta de tocar nas afinadas cordas do seu violão; e que bebia “todas”, como eu, mas que hoje não bebe tanto, e só quando não vai dirigir, -- se ele também sentia falta, como eu, daqueles seus velhos tempos de “Aspirante”, principalmente de quando pilotava os “seus lindos aviões”, e ele me respondeu, surpreendentemente, que não; que não sentia falta dos seus aviões, muito ao contrário de alguém como eu que passa horas esquecidas olhando o voo dos “Tucanos”, que passeiam tão longes de mim pela moldura esquecida da minha janela. Minhas horas de saudades mais se parecem com aquelas drogas que fazem retroceder no tempo, lembrando-nos só daqueles bons tempos que não voltam mais.

Quantas vezes eu, quem sabe vocês também, nos sentimos tão sós. O tédio, a solidão, atinge milhões de “velhos pilotos” por este mundo afora. Quando estou só, me sinto como um barco à deriva, sem lenço e sem documento; sem destino certo, isolado de tudo e de todos, perdido pelas águas negras do meu inesquecível Rio Negro, lá no distante Amazonas! Nesses momentos, nada melhor que estar ao lado de um neto amigo, ou de alguém que nos ouça, mas que nos “escute”, e que divida conosco esses instantes sem fim.

Momentos de tédio, de solidão são como “folhas mortas que a torrente transporta”; são como as dores que, se não são curadas, podem até matar. Semana passado um rapaz pulou do alto da ponte sobre o rio Potengi, desesperado que ficou quando seus pais, parentes, amigos e amigas descobriram que ele era um alegre, às vezes triste, mas inofensivo garoto gay. Quem sabe se nesta hora surgisse a companhia certa e tudo se “acalmasse” e aquele pôr-do-sol que assistiu seu tresloucado gesto, ficasse mais belo.

Fuja do tédio; o tédio não perdoa! O tédio é terrível! O tédio se apossa até daqueles que têm tudo na vida! Cuidado com o tédio!

Coronel Maciel.