Digo para o meu barbeiro:-
- Barbeiro, a morte castiga tanto aqueles que só praticam coisas boas, como
castiga os que só praticam coisas más durante a vida; como esses seus políticos
do PT -- digo só “pra chatear”, sabendo que ele é petista doente -- Você pensa
assim porque não acredita na vida eterna; os bons, vão para o céu; os maus -- e
fica me olhando com ares de censura – vão todos para inferno!
E fico então pensando,
enquanto ele vai cortando os meus cabelos brancos:- - como é difícil “lutar”
contra pessoas “tão racionais”, tão cheias de razões, tão cheias de Deus, de
moral; e, a meu ver, tão cheias de ilusões. E ele prossegue, me vendo assim tão
calado e pensativo: -- Felizes os que têm um Deus, uma Bíblia, uma crença
qualquer para viver, para nos salvar! Infelizes são os que, como você, que não
acreditam em nada! Para você, morreu, tudo acabou: mais nada! Tenho muita pena
de você, meu velho amigo coronel, tão descrente de tudo; que não acredita nem
em discos voadores, logo você que já voou tanto por aí, mas vive dizendo que nunca
viu essas tantas coisas que andam vagando às noites por aí,
para todo mundo “vê”; só você não enxerga! -- Você frequenta alguma Igreja?
Acredita em quê, afinal?
Na verdade, barbeiro, quantas vezes eu ligo o meu
radinho de pilha, nas minhas noites de insônia, e fico olhando as estrelas
nestes céus tão estrelados, e fico ouvindo esses tantos pastores, tanto os católicos,
quanto os seus “protestantes”, pregando a noite inteira, e cada vez mais eu
acredito menos no que eles dizem. E fico até duvidando se eles mesmos acreditam
em tudo o que eles dizem. Acho que todos eles são iguais a todos nós, barbeiro!
Todos nós temos as nossas dúvidas; até mesmo o Papa! Todos nós somos iguais à
lua, barbeiro; todos nós temos a nossa face oculta!
Pago minha conta e saio
depressa do salão. Sabe Deus o quanto é difícil enfrentar o afiado fio da navalha
de um barbeiro...
Coronel Maciel.
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