Uma vez eu li, faz é
tempo, uma “crônica” do Carlos Heitor Cony, crônica que nunca mais esqueci,
pois me lembra de minha mãe, que “foi embora” quando tinha 7 anos. A “história”
era mais ou menos assim: Um menino triste, triste e solitário, que vivia sempre
afastado dos colegas, colegas que zombavam muito dele porque usava meias
vermelhas. Quando perguntado a razão, ele respondia com muita simplicidade: --
Ano passado, no dia do meu aniversário, minha mãe me levou ao circo, e botou em
mim essas meias vermelhas; eu reclamei e comecei a chorar, dizendo que todo
mundo ia zombar de mim. Ela me disse que, se eu me perdesse, bastariam olhar
para o chão e quando vissem um menino de meias vermelhas saberiam que o filho
era dela. “Mas você não está mais num circo! Por que você não tira essas meias
e joga fora? O menino das meias vermelhas explicava: -- É que minha mãe
abandonou nossa casa e “foi embora”. Por isso eu continuo usando essas meias
vermelhas. Quando ela passar por mim, vai me encontrar e me levar com ela.
Machado de Assis falava do abismo que
separa as esperanças de uns tempos, da realidade de outros tempos. Quando Cony
se encontrar, lá nos cantos distantes do céu, com o menino das meias vermelhas
abraçado com sua mãe; com o Presidente Castelo Branco, de quem Cony foi um dos
mais acirrados críticos; com Machado de Assis, um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras, poderão, conversando entre os anjos e santos dos céus, encontrar
uma solução para diminuir esse abismo que separa aquele Brasil dos tempos do
Castelo Branco, desse Brasil sem os tempos do Castelo Branco...
Coronel Maciel.
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