terça-feira, 25 de dezembro de 2018

ROUXINÓIS DO RIO NEGRO.


Quantas e quantas vezes, mecânicos, rádios telegrafistas, pilotos, todos nós, tripulantes dos aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base Aérea de Belém, já pernoitamos nas antigas missões dos padres “Salesianos”, ao longo do majestoso Rio Negro. Naqueles velhos tempos havia o trinômio FAB – MISSIONÁRIOS -- ÍNDIOS. Hoje nem sei se essas missões ainda existem. O trinômio, não mais; por isso que não me canso de dizer: -- Visitem a Amazônia, enquanto ainda é nossa! Após o café da manhã, antes de partir, o comandante do avião era solicitado pela Madre Superiora a escrever alguma coisa sobre aquele pernoite; um agradecimento qualquer pela simples, mas sempre amiga acolhida; uma simples mensagem; qualquer coisa assim. Lembro-me daquele dia que pernoitamos em Jauaretê, pequenina pérola situada no extremo noroeste do nosso Estadão do Amazonas, numa região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança formada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos, com suas asas “mais negras que as asas das graúnas”, e as penas douradas que lhes cobrem o papo inteiro. Ficam tão mansos, que voam para o alto das árvores mais frondosas, para logo voltar para os braços e abraços, ao primeiro chamado dos seus verdadeiros donos! Os nossos aviões também eram assim, iguais àqueles lindos rouxinóis: -- Voavam, voavam e voavam e depois voltavam ao ninho antigo...Alguns nunca voltavam... Pois bem. Naquele dia a nave americana “Columbia” voava para o espaço sem fim.  Foi então que eu, aproveitando a deixa, escrevi a seguinte mensagem no famoso “Livro das Freiras”: “—Neste tão lindo dia em que a nave Columbia decolou para o seu segundo voo orbital em volta da terra, uma outra nave, muito mais velha, mas muito mais querida, estará também cruzando os céus amazônicos transportando em suas asas prateadas as cargas divinas da esperança! Estaremos transportando as esperadas correspondências; os bilhetinhos; as cartinhas de amor; os remédios tão esperados; os médicos, os dentistas, os jornais, as velhas revistas para serem distribuídas pelas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés, comunidades tão carentes das novidades das cidades grandes. E como todo aviador tem sua veia romântico-poética, “solenizei” aquela “despedida” com os seguintes versos, que me veio em cima da hora: -- E a nave Columbia/Lá do alto, lá do céu/ Não se cansa de dizer: -- Ó Dakota, meu irmão/Que sejas sempre fiel/ Ao Capitão Maciel/E sua tripulação...” Tudo fazendo parte das sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos, sobrevoando a imensa, a linda, a majestosa Floresta Amazônica!
Coronel Maciel.

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