Coisas do Camarão, que
até Deus duvida.
Quem foi ao Pará parou;
tomou tacacá, ficou! -- Não são poucos militares das bandas do Sul que foram
servir Belém, por castigo! -- Por castigo? – Sim, por castigo. Belém,
antigamente, era assim! Quem era “escalado” para servir na Amazônia, alguma
coisa de errado havia feito. “Quem gosta
de mato é veado; e quem gosta de norte é agulha magnética”, era o antigo “refrão”.
Muitos acabaram ficando por lá, depois que descobriram as delícias das comidas da
lá, e das suas lindas morenas, “quentes e úmidas”, como é o clima de lá. Casaram-se
e deram-se muito bem. E nunca mais quiseram sair da lá, da minha doce cidade
morena.
Peço licença para
também contar algumas “paradas” de “um grande amigo meu”, o Brigadeiro Camarão,
hoje brilhando entre as estrelas dos céus. Servimos juntos na EPC do AR. Naqueles
idos de 66, 67, eu era um Tenente Aviador solteirão, livre e desimpedido. Ficamos
amigos depois que ele ficou sabendo que eu era paraense; e paraense da gema! O
Camarão era um apaixonado pela Amazônia. Naqueles bons tempos, eu lhe dizia que
eu só me tornei oficial da FAB porque fui para o Rio terminar a Quarta Ginasial,
quando também frequentei um Cursinho Preparatório, o “Salgado Filho”, em
Cascadura. Estudava direto, sem parar e sem descanso. Era o ano de 1956.
Dizia-lhe eu: -- Brigadeiro, não tivesse sido assim, eu estaria até hoje
empinando papagaio, jogando peteca, pegando pião na unha, criando galos de
briga, jogando peladas nas ruas da minha doce cidade morena. Naquela época, em
Belém, ninguém sabia informar direito como ingressar na FAB. Foi quando ele
ficou pensando, pensando; me olhando com aquele seu olhar profundo e
inteligente e perguntou se eu “topava” pegar um T-6 e ir fazer propaganda da
Escola pela Amazônia. -- Aceitei na hora! -- Ainda mais quando ele disse que eu
podia demorar o tempo que eu quisesse. Decolei com o meu T-6 abarrotado com
tudo o que havia sobre a EPC. Fui à São Luís, Belém, Santarém, Manaus até
Tabatinga, divulgando o máximo a minha Escola tão querida! Os pilotos meus
conhecidos que serviam em Belém, acostumados a voar em aviões maiores e mais
bem equipados, ficavam admirados como eu me atrevia a voar, num avião
monomotor, em rotas tão longas e “perigosas”. Eu só fazia rir. Antes do pousar,
eu dava alguns “rasantes”, fazia algumas acrobacias, para não dizer que “quebrava
o pau mesmo! ”-- para “avisar” da minha chegada! -- Nos ginásios, auditórios,
escolas públicas, particulares, até durante uma missa em Santarém, durante um
sermão feito por um padre amigo meu, lá estava eu fazendo propaganda da Escola.
Dizia às “crianças” que me ouviam e me perguntavam “se era eu quem havia feito aquelas
quebras rasantes” que -- para compensar a falta de cursos preparatórios na
Amazônia, o Comandante da Escola resolvera colocar no concurso daquele ano o
“Teste de Inteligência”, que era tão ou mais importante que o português e
matemática exigidos no concurso; estas matérias, entre outras, dizia-lhes eu,
eles iriam realmente aprender quando na Escola. O meu empenho foi tão grande,
que o jornal “O Liberal” de Belém publicou na primeira página, com evidente
exagero, que: -- “Oficial-Aviador-Paraense não quer mais saber de paulistas,
cariocas, mineiros e gaúchos na EPC do AR! -- Só paraenses! ” -- Levei o jornal
para o Brigadeiro ler, quando ele quase morreu de rir!
Mas valeu a pena. No
ano seguinte o Camarão me chamou para comemorar a grande quantidade de
paraenses, maranhenses, amazonenses que ingressaram na EPC. -- Muito bem, “Fura
Bolo” – era assim que ele carinhosamente me chamava; nunca tantos “Amazônidas”
como neste ano! Muito obrigado!
Grande Brigadeiro Camarão!
Coronel Maciel.
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