Voando rumo às
estrelas!
Tem cara que pensa que
a vida dos outros é sempre melhor que a nossa; que a mulher dos outros, idem; quando
leio nos jornais que um desses ricaços; donos “jatinhos” intercontinentais e
outros bichos, de repente morre, e vai logo pro céu, porque dizem por aí que Deus
não gosta de gente pobre no céu, eu fico
pensando: -- Porra, eu, com os meus 78 cabelos
brancos, quando digo que nunca senti
inveja de ninguém, eu minto; já senti, sim, inveja daqueles artistas americanos, bonitões,
tipo aquele cara que esqueço agora nome,
do filme “O Vento Levou”, quando bastava
um leve estalar de dedos, para levar todas “pra cama!”. Mas isso, só quando eu
era “criancinha”. Depois que me tornei “Piloto Ás da FAB”, tudo melhorou; foi
quando descobri que piloto sem beleza, com mocidade atrai; piloto bonitão, sem
mocidade, não...
Uma vez, faz é tempo, chegamos
à bela cidade de Ilhéus para o pernoite. Chegamos bem em cima da hora do
término das aulas de um colégio só de "meninas", vizinho do
aeroporto. Antes do pouso fizemos algumas estonteantes passagens baixas sobre a
cidade, avisando da nossa chegada. Pousamos; o aeroporto fervilhava de “normalistas
lindas”, que deliravam com nossos lindos olhos rasantes. Alegria geral e
descontraída. Pousamos num mais que perfeito “pilofe”, no nosso bravo C-47,
vulgo “Dakota” “extraordinário” avião de ataque e abate.
Combinei antes de
sairmos do avião que o Bianchi que fazia parte da tripulação, descendente de
italiano, figura “muito bem-apessoada” -- deixaria de ser “Capitão-Capelão”,
para ser “Capitão--Aviador”. O Alcântara (grande piloto de C-47, ótimo amigo;
infelizmente faleceu logo depois, num trágico acidente com um Xavante, em
Natal) passaria a ser “Capitão-Capelão”. O Alcântara assumiu perfeitamente suas
"novas funções" (trocou a asinha pela cruz no macacão de voo). E o
Alcântara orava, rezava e benzia, e benzia, rezava e orava fazendo o sinal da
cruz na testa das meninas; um perfeito Cardeal! Mas tudo dentro do maior
respeito, tudo na maior brincadeira; tudo na maior gozação.
Logo chegava ao
aeroporto um riquíssimo baiano, dirigindo seu enorme carrão vermelho, já um tanto
quanto embriagado e doido pra puxar conversa, dizendo-se dono de um grande
comércio de cacau, e que era muito rico e tal e coisa e coisa e tal. Ficou
acertado que ele viria nos buscar à noite para uma boa “moqueca de peixe”, com
muito uísque, cerveja, cachaça e viola para quem quisesse e algumas lindas
garotas para alegrar o nosso pernoite. “Uma festinha” que iria nos oferecer, na
sua bela mansão, bem em frente ao mar. -- Dizia-nos que sua maior frustação na
vida era não ter sido piloto da FAB. Rico tem dessas coisas. -- Eu só fazia
dizer rindo e brincando que a maior ambição da minha vida era um dia chegar a
ser rico, gordo e feliz, tal e qual ele, quando na verdade eu estava era
bolando uma “grande jogada” para alegrar nosso pernoite.
Não deu outra; numa
linda noite negra apagada, mas muio estrelada, lá estávamos nós, alegres e
satisfeitos, num casarão bem em frente ao mar, comendo e bebendo do melhor. Foi
quando o Bianchi, depois de umas e outras, (ótima pessoa, um grande amigo; um
santo Capelão o Bianchi) me perguntou: - - E agora, Capitão Maciel, eu sou o
quê, aqui, agora; qual o meu papel neste teatro estrelado em frente ao mar? --
Eu respondi sério, mas em tom de gozação: - - Ora, ora, ora Bianchi, você é
nosso bom e santo Capelão. -- Faça o que lhe mandar o seu santo, manso e
humilde coração.
Não sei realmente o que
aconteceu. Só sei dizer que de repente o Bianchi sumiu, assim como sumiu uma
das mais lindas baianas. Dizem que o
Bianchi “ensandeceu”, como ensandeceu o Poleá da “Mosca Azul” do Machado de
Assis. Eu e o Alcântara, verdadeiros “Românticos do Ar”, pegamos do manche e
voamos rumo às estrelas...
Coronel Maciel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário