Eram 3 horas de uma
fria manhã de Junho quando fui acordado no meu aconchegante quartinho, no “Hotel
Aliança”, na minha Barbacena querida. Chovia muito. O Camarão não quis nem
saber; eu era o seu tenente “Fura Bola”, pronto para qualquer missão impossível.
Barbacena, vocês sabem, é rodeada de
montanhas por todos os lados, assim como a rota para o Galeão.
Chegando à Escola Preparatória
de Cadetes do Ar (O Camarão costumava passar noites e noites acordado, sozinho
na sua sala de Comando. O dia tinha poucas horas para o muito que ele pretendia
fazer, e fez, na EPC do Ar) o Brigadeiro foi logo me dizendo: -- Fura Bolo, vem
cá. -- Pega um T-6 e me leva esses documentos e os entregue nas mãos do
comandante de um C-54 que vai decolar daqui à pouco para Washington. --
Mensagem à Garcia, Brigadeiro? -- O Galeão está fechado para voos visuais... O
Camarão sorriu com aqueles seus cabelos brancos, querendo me dizer que sim.
O meu sempre fiel e corajoso T-6, justo naquele
dia, não estava em perfeitas condições para um perfeito voo por instrumentos. -- Mensagem à Garcia; decolei.
Missão cumprida! Na hora
do café matinal, junto com todos os outros oficiais, também estava eu, no bem
bom, tomando o meu café, para surpresa do Camarão, que perguntou, muito sério,
por que “abortara a missão”. Brigadeiro -- retruquei sorrindo:-- Não só fui,
com já voltei! O Brigadeiro deu uma estrondosa gargalhada, me abraçou, e disse
para todo mundo ouvir: -- Este é o meu tenente Fura Bola, cumpridor de qualquer
missão...
Façam o que eu digo,
mas não façam o que eu faço e outras “leãozadas” que eu (modéstia à parte) já fiz.
Se hoje estou vivo, não
sei bem por que, pois foram tantas as indisciplinas de voo que já fiz pelos
céus azul ou cheio de nuvens, relâmpagos e trovoadas deste meu imenso Brasil. Foram
tantas que hoje, velho piloto hangarado, às vezes eu chego a duvidar...
A era da aviação romântica, a nossa aviação,
já passou. Hoje vivemos a era do GPS. A era dos aviões pilotados pelos
computadores de bordo, quando os pilotos são meros observadores dos mais
incríveis “Avionics”.
É fácil viver e não
morrer de maneiras tão absurdas e incríveis durante o mais nobre de todos os
ideais: A Aviação. É só não fazer o que eu costumava fazer. Nem todos têm os anjos
da guarda que eu tive... kkkkk
Coronel Maciel.
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