quarta-feira, 6 de março de 2019

A CAMINHO DOS CÉUS.


Eu não tenho medo de dizer que confio muito mais na sorte, que na razão. Quanto estou com medo da realidade, eu fujo para os bairros mais distantes, os becos mais “perigosos”, para conversar com os meus mais perigosos amigos; um deles, o “Passarinho”, que eu gostava de conversar, dando “corda”, quando então ele me contava dos seus mais perigosos “rasantes” pelos  caminhos da  vida:-- Uma vez, em Recife, ele me dizia, eu estava num bar, bebendo na companhia de uma mulher, quando de repente apareceu um soldado da polícia, que arrancou a menina da mesa, puxando pelos cabelos, com  chutes e pontapés; eu não sabia que ela era “mulher” do soldado; mas  não tive dúvidas: puxei meu 38  dei-lhe um único tiro, mas  tão certeiro que bastou-lhe para morrer. Passei uns dois anos “na gaiola”, fugi, e desde então me escondo por aqui, quando esses outros sacanas daqui dizem que fui “depenado” na gaiola... “Pássaro” tinha noventa anos, quando morreu ano passado; era completamente lúcido, e tinha o maior medo de morrer; fumava três cigarros por dia; de maconha, com um dinheirinho que eu costumava lhe dar, ouvindo suas histórias; uma vez encontrei o pássaro muito triste, num quartinho onde morava; um quarto que só cabia sua rede, e quando se olhava pra cima, via-se telhas quebradas, que deixavam passar respingos das chuvas; foi quando ele me pediu para comprar uma vela, para acender num quartinho ao lado (são  vários os quartinhos naquele beco sem saída), vela  que serviria  para iluminar o caminho da alma de uma mulher, vizinha sua, que acabara de morrer;  para que a alma, me dizia ele,  não se perca pelos caminhos do céu. Ontem morreu mais um grande amigo meu, o Coelho, o José Luiz de Oliveira Coelho, que saiu da FAB quando Major Aviador, para ser Comandante Internacional da VARIG. Hoje vou acender uma vela para o Coelho não se perder no seu último voo, a caminho dos céus...
Coronel Maciel.

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