Naqueles idos de 66,
67, isto é, “em plena ditadura”, ditadura que voava alto, iluminando os céus do
Brasil, (que tempo bom!) eu era um tenente solteirão, livre e desimpedido. Havia
sido transferido para EPC do Ar, “de castigo”, depois de um “leve”
desentendimento com um “muito mais antigo”, quando servia na Aviação Embarcada.
Feliz, ou infelizmente, sou assim, individualista e cheio de arestas.
O Camarão costumava me
chamar para conversar após o expediente.
Ainda mais depois que ficou sabendo que eu era paraense; e paraense da
gema, nascido minha linda cidade morena Belém do Pará. Numa dessas ocasiões, eu
sugeri treinar um equipe de “Cama Elástica”; informei a ele que havia uma cama
elástica novinha em folha, recém adquirida
nos Estados Unidos, na Escola de
Aeronáutica dos Afonsos, e que não
estava sendo mais utilizada. Ele fez os contatos e lá fui eu num caminhão buscá-la.
Treinei uma equipe, e demos uma primeira demonstração no dia 23 de Outubro, Dia
do Aviador; eu, e mais oito “Pré-cadetes”. O Camarão vibrou!
Ele sempre foi um
apaixonado pela Amazônia. Naqueles bons tempos, eu lhe dizia que só me tornei
oficial da FAB porque fui para o Rio terminar a quarta série ginasial, quando
também frequentei um cursinho preparatório, em Cascadura. Estudava direto, sem
parar e sem descanso. Era o ano de 1956. Dizia-lhe eu: -- Brigadeiro, não
tivesse sido assim, eu estaria até hoje empinando papagaio, jogando peteca,
pegando pião na unha, criando galos de briga,
jogando peladas nas ruas da minha
doce cidade morena. Naqueles tempos, hoje tão saudosos e distantes, em Belém,
ninguém sabia informar direito como ingressar na FAB. Foi quando ele ficou
pensando, pensando; olhando-me com aquele seu olhar inteligente e perguntou se
eu “topava” pegar um T-6 e ir fazer propaganda da Escola pela Amazônia. --
Aceitei na hora! -- Ainda mais quando ele disse que eu podia demorar o tempo
que eu achasse necessário.
Decolei com o meu T-6
abarrotado com tudo o que havia sobre a EPC. São Luís, Belém, Santarém, Manaus
até Tabatinga, divulgando o máximo possível a Escola. Os pilotos meus
conhecidos da FAB, que serviam em Belém, acostumados a voar em aviões maiores e
mais bem equipados, ficavam admirados como eu me atrevia a voar, num avião
monomotor, em rotas tão longas e “perigosas”. Eu só fazia rir. Antes do pousar,
eu dava alguns belíssimos “rasantes”, cuidadosas acrobacias, pois o avião estava
muito pesado. Mas, “quebrava o pau mesmo!”-- para “avisar” da minha chegada! Nos ginásios, auditórios, escolas públicas,
escolas particulares, até durante uma missa em Santarém, durante um sermão feito
por um padre amigo meu, lá estava eu fazendo propaganda da Escola. Dizia
àquelas crianças que, para compensar a falta de cursos preparatórios na
Amazônia, o Comandante da Escola resolvera colocar no concurso daquele ano o
“Teste de Inteligência”, que era tão ou mais importante que o português e
matemática exigidos no concurso; estas matérias, entre outras, dizia-lhes eu,
eles iriam realmente aprender quando na Escola.
O meu empenho foi tanto,
que o jornal “O Liberal” de Belém publicou na primeira página, com evidente
exagero é claro, que: -- “Oficial-Aviador-Paraense não quer mais saber de
paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos na EPC do AR! -- Só paraenses!” --
Levei o jornal para o Brigadeiro ler. Ele quase morreu de rir!
Mas valeu a pena. No
ano seguinte o Camarão me chamou para comemorar a grande quantidade de jovens
paraenses, maranhenses, amazonenses que ingressaram na EPC. -- Muito bom, “Fura
Bolo” -- Nunca tantos “Amazônidas” como este ano! Muito obrigado!
Grande Brigadeiro
Camarão!
Coronel Maciel.
Um comentário:
Muito bom o seu artigo, irmão. Gostei muito!
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