Corpus Christi.
Por quê, me pergunta o Spindola,
ateu até debaixo das águas mais profundas dos seus rios, furos e igarapés; será
que só eu, que já corri o mundo inteiro voando nas asas dos meus velhos livros;
que já entrei nas mais ricas Igrejas do mundo; que já fiz minhas orações nas
Capelinhas mais humildes das montanhas e tapiris das serras; por quê, meu bom Deus,
não consigo acreditar em nada do me dizem as Bíblias e tantos outros livros
sagrados? Por quê a minha fé é menor que fé de uma formiguinha? Conheço um
caboco velho, me diz esse velho caboco ateu, mais santo que pecador, que mora
nas bandas do Igarapé-Miri; que já viveu os seus mais de cem anos, rezando ao
lado das suas caboquinhas verdinhas; será que ele, assim como eu e você, nunca
iremos nos deitar nas brancas redes atadas nas brancas nuvens dos céus, ao lado
das mais lindas anjas; sejam elas gordinhas, baixinhas, magrinhas ou gigantes
lá nas alturas céus? Será mesmo que
existam por aí tantos céus e infernos, me diga logo você, que já passou mais de
não sei quantas mil horas, voando como voam as folhas bem verdes dos nossos
coqueiros, balançando aos ventos, pertinho dos céus...
Coronel Maciel.
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