terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A bordo do meu heroico Dakota C-47.


Lendo o formidável desempenho do comandante Sérgio Luiz -- “O BOM” (melhor que o comandante Sérgio Luiz, só o comandante Sérgio Luiz Lott rsrs), que voou longas 100NM em pane seca, num possante AIR-BUS, conseguindo pousar, são e salvo, na Base Aérea dos Açores (parece mentira!) é que me lembrei de um sufoco que também passei pilotando um Dakota C-47, não tão possante e bem diferente de um AB. Foi assim que o “causo” aconteceu. Decolamos de Carauari, linda cidadezinha situada nas margens do Rio Juruá. Chovia muito. As freiras, freirinhas, padres; índios, índias e pajés; macacos, papagaios, tartarugas, todos com muito medo; cada qual rezando seus mais variados e exóticos tipos de orações (não gosto de ver ninguém rezando no meu avião; como se aquilo não fosse o meu seguro meio de vida...) fui entrando e falando alto: quem for de reza, reze, porque o tempo está como o diabo pediu a São Pedro; passarinho está indo pra casa a pé!

Estávamos com mais de 40 pessoas a bordo, bem acima do previsto, mas dentro do peso estipulado pelo fabricante. Aqueles passageiros ribeirinhos é que estavam bem abaixo do peso normal desejado.

Decolamos, nariz pra cima até chegar aos dez mil pés, o equivalente a uns trinta mil no AIR-BUS do Serginho, onde alcançamos um topo bem definido.  Estávamos no meio do caminho, entre Carauari e Eirunepé, quando a cabeça de uns dos enormes cilindros  voou pelos ares, quase levando consigo a carenagem do motor esquerdo. O meu copila era um tenente novinho, R2, que fazia sua primeira viagem sobre a densa floresta amazônica. Quando ele viu aquilo, o motor pegando fogo (ele estava do lado esquerdo, na posição de primeiro piloto) ficou “pálido de espanto, e, graças a Deus, desmaiou”. Foi melhor; fiquei sozinho para tomar as decisões.

Para encurtar a história: o que seria uma hora de voo transformou-se em duas horas de extremo sufoco, voando baixo, sobrevoando o Rio que é muito, mas muito sinuoso, pois, pensava eu, se o motor direito pifar, eu me jogo sobre o rio, livrando das enormes árvores, árvores com mais de dez “andares” de altura, rodeadas de bilhões de mosquitinhos, onças, cobras e jacarés.

Conseguimos chegar a Eirunepé já no “lusco-fusco”, quando, acredite se quiser, fui carregado pelos ares como verdadeiro herói pelos incrédulos passageiros!

E foi só na hora do jantar oferecido pelo prefeito, que estava alegre, risonho e feliz por termos salvo sua família inteira que estava a bordo do nosso heroico C-47; depois de tomar um copo bem generoso da “branquinha”, foi que senti minhas pernas tremerem, lembrando da minha mulher e dos meus filhos ainda pequenos  que  deviam estar em casa, em Belém do Pará, alegres e brincando, sem desconfiarem de nada ...

Quem escapa de um perigo, ama a vida com máxima intensidade!

Coronel Maciel.

 

 

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