Lendo o formidável desempenho
do comandante Sérgio Luiz -- “O BOM” (melhor que o comandante Sérgio Luiz, só o
comandante Sérgio Luiz Lott rsrs), que voou longas 100NM em pane seca, num
possante AIR-BUS, conseguindo pousar, são e salvo, na Base Aérea dos Açores
(parece mentira!) é que me lembrei de um sufoco que também passei pilotando um
Dakota C-47, não tão possante e bem diferente de um AB. Foi assim que o “causo”
aconteceu. Decolamos de Carauari, linda cidadezinha situada nas margens do Rio
Juruá. Chovia muito. As freiras, freirinhas, padres; índios, índias e pajés;
macacos, papagaios, tartarugas, todos com muito medo; cada qual rezando seus
mais variados e exóticos tipos de orações (não gosto de ver ninguém rezando no
meu avião; como se aquilo não fosse o meu seguro meio de vida...) fui entrando
e falando alto: quem for de reza, reze, porque o tempo está como o diabo pediu
a São Pedro; passarinho está indo pra casa a pé!
Estávamos com mais de
40 pessoas a bordo, bem acima do previsto, mas dentro do peso estipulado pelo
fabricante. Aqueles passageiros ribeirinhos é que estavam bem abaixo do peso
normal desejado.
Decolamos, nariz pra
cima até chegar aos dez mil pés, o equivalente a uns trinta mil no AIR-BUS do
Serginho, onde alcançamos um topo bem definido.
Estávamos no meio do caminho, entre Carauari e Eirunepé, quando a cabeça
de uns dos enormes cilindros voou pelos
ares, quase levando consigo a carenagem do motor esquerdo. O meu copila era um
tenente novinho, R2, que fazia sua primeira viagem sobre a densa floresta
amazônica. Quando ele viu aquilo, o motor pegando fogo (ele estava do lado
esquerdo, na posição de primeiro piloto) ficou “pálido de espanto, e, graças a
Deus, desmaiou”. Foi melhor; fiquei sozinho para tomar as decisões.
Para encurtar a história:
o que seria uma hora de voo transformou-se em duas horas de extremo sufoco,
voando baixo, sobrevoando o Rio que é muito, mas muito sinuoso, pois, pensava
eu, se o motor direito pifar, eu me jogo sobre o rio, livrando das enormes
árvores, árvores com mais de dez “andares” de altura, rodeadas de bilhões de
mosquitinhos, onças, cobras e jacarés.
Conseguimos chegar a Eirunepé
já no “lusco-fusco”, quando, acredite se quiser, fui carregado pelos ares como
verdadeiro herói pelos incrédulos passageiros!
E foi só na hora do
jantar oferecido pelo prefeito, que estava alegre, risonho e feliz por termos
salvo sua família inteira que estava a bordo do nosso heroico C-47; depois de
tomar um copo bem generoso da “branquinha”, foi que senti minhas pernas
tremerem, lembrando da minha mulher e dos meus filhos ainda pequenos que
deviam estar em casa, em Belém do Pará, alegres e brincando, sem
desconfiarem de nada ...
Quem escapa de um
perigo, ama a vida com máxima intensidade!
Coronel Maciel.
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