sábado, 27 de outubro de 2012

Lá no meu Cariri...


              “No meu cariri / Quando a chuva não vem/Não fica lá ninguém...

                Somente Deus ajuda... Se não vier do céu/Chuva que nos acuda.

                A Macambira morre/Xiquexique seca/ Juriti se muda...”.  

Já fiz chover nos sertões cearenses... Foi lá pelos idos de 70. Antes da partida para o primeiro voo, no meu garboso C-47--2020, o representante do governo cearense nos dava os últimos detalhes de um plano muito bem elaborado por um professor universitário, especialista “em fazer chover”. Logo em seguida fui apresentado aos que iriam participar do chamado “voo da chuva”. A imprensa inteira se fez presente, curiosa e sensacionalista, tirando fotos, solicitando entrevistas. Iniciamos os preparativos para o "bombardeamento" das “inocentes nuvens”, com a montagem de dispositivos especiais, cuidadosamente arquitetados pelo jovem cientista cearense. A alma do negócio consistia no transporte de oito tambores cheios de águas do mar, saturadas com muito sal e muita esperança... O primeiro voo serviria de teste para as possibilidades futuras, dizia-me o jovem professor-cientista.

Os jornais se encarregaram de divulgar os resultados iniciais, que foram considerados "ótimos", pois choveu, e muito, naquele primeiro e santo dia. Decolávamos e ficávamos horas e horas sobrevoando os pesados cúmulos, enquanto “lágrimas salgadíssimas” eram despejadas nas brancas nuvens que se formavam aqui e ali... Era uma grande esperança, pois a seca é uma “coisa”... Uma coisa horrível... Com a seca vem a fome...  E a fome é cruel; a fome é terrível.

Havia as cidades consideradas “bases de abastecimento” no interior do Ceará, onde pousávamos para reabastecer os tambores. E assim ficamos 15 dias gozando as delícias de estrelados pernoites, num ótimo hotel em Fortaleza, ciceroneados por lindas meninas cearenses molhadas de água do mar e ternamente refrescados com as águas das nossas chuvas...

A minha vida era um vidão, naqueles bons tempos da “ditadura”...
Coronel Maciel.