“No meu cariri / Quando a chuva não vem/Não fica lá ninguém...
Somente Deus ajuda... Se não vier do
céu/Chuva que nos acuda.
A Macambira morre/Xiquexique seca/
Juriti se muda...”.
Já fiz chover nos
sertões cearenses... Foi lá pelos idos de 70. Antes da partida para o primeiro voo,
no meu garboso C-47--2020, o representante do governo cearense nos dava os
últimos detalhes de um plano muito bem elaborado por um professor
universitário, especialista “em fazer chover”. Logo em seguida fui apresentado
aos que iriam participar do chamado “voo da chuva”. A imprensa inteira se fez
presente, curiosa e sensacionalista, tirando fotos, solicitando entrevistas.
Iniciamos os preparativos para o "bombardeamento" das “inocentes
nuvens”, com a montagem de dispositivos especiais, cuidadosamente arquitetados
pelo jovem cientista cearense. A alma do negócio consistia no transporte de
oito tambores cheios de águas do mar, saturadas com muito sal e muita
esperança... O primeiro voo serviria de teste para as possibilidades futuras,
dizia-me o jovem professor-cientista.
Os jornais se
encarregaram de divulgar os resultados iniciais, que foram considerados
"ótimos", pois choveu, e muito, naquele primeiro e santo dia.
Decolávamos e ficávamos horas e horas sobrevoando os pesados cúmulos, enquanto
“lágrimas salgadíssimas” eram despejadas nas brancas nuvens que se formavam
aqui e ali... Era uma grande esperança, pois a seca é uma “coisa”... Uma coisa
horrível... Com a seca vem a fome... E a
fome é cruel; a fome é terrível.
Havia as cidades
consideradas “bases de abastecimento” no interior do Ceará, onde pousávamos
para reabastecer os tambores. E assim ficamos 15 dias gozando as delícias de
estrelados pernoites, num ótimo hotel em Fortaleza, ciceroneados por lindas
meninas cearenses molhadas de água do mar e ternamente refrescados com as águas
das nossas chuvas...
A minha vida era um
vidão, naqueles bons tempos da “ditadura”...
Coronel
Maciel.