Em vias de ser enviado
para o presídio da Papuda, Zé Dirceu pediu um particular com dona Dilma. Como
vocês todos sabem, os dois agora não se amam mais...
A conversa foi
começando assim: -- Oi, Zé! -- ouvi dizer que você anda querendo me apunhalar
pelas costas... Estás querendo mesmo me levar contigo pra Papuda? -- É verdade,
Zé? – Olha que eu sou e estou completamente inocente nesse caso do mensalão. --
Mas também, Estela, aqui pra nós, você está irreconhecível. -- Que negócio é
esse de ficar tão calada, vendo a gente sendo massacrado no STF? -- O Fidel e o
Lula andam putos da vida com você...
Primeiro que tudo Zé, o
meu cargo exige respeito! Nada de ficar me tratando com codinomes. Não me faças
lembrar coisas que eu luto tanto pra esquecer... Eu estou adorando ser
presidenta. E não vejo nenhum Zé na minha frente capaz de me tirar daqui: nem o
Zé do pó, nem Zé da serra, nem Zé ninguém nenhum! Tão cedo nenhum Zé vai me
tirar daqui... Só outra revolução.
– Pera aí, porra! -- Devagar
com o andor! ... -- Você pode até se considerar eterna presidenta, mas
presidentes mesmo continuam sendo eu e o Lula... -- Deixa de conversa, Zé... --
O Lula já era! -- E vou te dizer mais: vou me juntar cada vez mais com esses
generais! Na hora do aperto é só neles que a gente pode confiar: na força dos
seus canhões! E tem mais, Zé: esses generais que você chama de milicos, não são
o que você pensa, não. Eles são gente! E gente muito mais gente do que todos
nós reunidos...
A conversa foi
engrossando, engrossando chegando aos meandros de questionamentos filosóficos:
-- Veja bem como são as coisas, Zé; veja o quanto eu mudei depois que eu vi
como é gostoso ser a toda poderosa presidenta Dilma Rousseff! – Preste atenção
no que te digo: eu ando tão arrependida de tudo o que nós fizemos... Deste
nosso passado tão triste, tão cheio de sangue... Maltratamos tanto; torturamos
tanto; matamos tantos inocentes... Preste atenção, ex-amor: Jesus Cristo,
aquele que eu disse uma vez brincando que nem ele me impediria de chegar à
presidência, pode um dia te castigar... –
Ele é filho de Deus! Bem que ele diz para nós amarmos uns aos outros... Vê se
você consegue por um pouco de sentimento na tua alma criminosa, nestes anos que
vais passar na Papuda... Tu e o Lula... Não ter compaixão é próprio de
criminosos, Zé; é próprio do Fidel, do Hugo, do Che Guevara... Próprio de
animais, de selvagens, criminosos... -- Estou tão arrependida daqueles tempos
em que a maldade desafiava minha compreensão; daqueles tempos que me
horrorizavam, mas que me seduziam tanto... Daqueles tempos quando eu
representava toda a maldade e hipocrisia do mundo do terror contra os nossos
queridos amigos generais... Sem eles eu não seria nunca Presidente da
República! – Mas, por que você está ficando assim tão pálido, Zé?
-- Eu vou é-me embora
daqui. Mas antes quero te avisar. Podes
ter certeza que nós não estamos gostando nada do que você anda fazendo. Eu
mesmo nunca vou mudar. Não vou me meter nestes teus sentimentos; nesses teus
arrependimentos e compaixões. Não vou deixar me seduzir. Arrependimentos não são coisas pra
guerrilheiros como eu. Sou cria do Fidel Castro, que nunca teve pena de
ninguém, e por isso continua mandando e desmandando em toda América
Latina. -- Te cuida, Estela!
E o Zé saiu correndo, puto
da vida da nada amistosa conversa com dona Dilma, no Palácio Encantado do Planalto...
Coronel Maciel.