segunda-feira, 28 de março de 2022

CRÊS EM DEUS?

 

Você crê em Deus, Capitão?

Foi a pergunta que uma vez me fez Frei Angélicus, um frade  alemão que vivia nos Tiriós, uma tribo de índios perdida lá nos nortes do meu Estadão do Pará, onde havia um pequeno Destacamento de Proteção ao Voo da FAB; e onde eu gostava de pernoitar. Era quando eu levava dúzias e mais dúzias de “Cerpinha”, a cerveja que os paraenses gostam, e que eu sabia que  Frei Angélicus também gostava; ele me “pagava” com um bom conhaque alemão, que ele sabia que eu também gostava; e ficávamos “filosofando” noites inteiras;  eu, com os meus 30 anos; ele com seus mais de 60: -- Não,   respondi; não creio, nem acredito. Mas quando criança eu acreditava muito. Grande  pecador que eu era, tinha muito medo das labaredas dos infernos! Foi quando aprendi ajudar missas; missas em Latim, lá na “Capelinha de Lurdes”, pertinho  lá de casa. -- Nem quando você pilota esses seus aviões, voando em céus iluminado por relâmpagos? – Nessas horas o que eu sinto mesmo é saudades de casa, da mãe e dos meus filhos; nessas horas eu penso em Deus; não nesses “Deuses” criados pelos homens, como aqueles deuses mitológicos dos Gregos e Romanos, hoje completamente desacreditados; o meu Deus é aquele “cara” que está agorinha mesmo sentado na sua enorme  poltrona estofada, no mais profundo infinito, e muito mais preocupado em manter em equilíbrio suas enormes “Galáxias”, do que preocupado com a gente, aqui nos “Tiriós”; quando então dávamos as mais gostosas gargalhadas, ébrios de cervejas e de um bom conhaque alemão...

Coronel Maciel.

domingo, 27 de março de 2022

CADERNETAS DE VOO.

 

Cadernetas de Voo.

Vez em quando abro  minhas velhas “Cadernetas de Voo”, tão cheias das mais variadas “Indisciplinas de Voo”. Quantas vezes me surpreendo, e fico pensando: será que “sou eu mesmo” que fiz essas “leãozadas” todas, ou foi meu Anjo da Guarda?   Menino ainda, menino travesso, menino moleque, um cão chupando manga daquelas centenárias mangueiras que enfeitam as ruas do meu Belém do Pará. Empinando papagaios; jogando bola na rua; jogando peteca, pegando pião na unha; “brechando” meninas lindas nuinhas-nuinhas tomando banho nas águas mornas dos meus saudosos igarapés. Sempre  de pés descalços e braços nus; tudo na minha linda, quente e úmida cidade morena do meu  Belém do Pará – Gostava de ficar  horas esquecidas olhando os céus do quintal lá de casa, imaginado coisas... Sonhando coisas... Sonhando, sonhando... São tantos os sonhos  quando somos crianças.  Naqueles velhos tempos, naqueles idos de 1950, eu ficava olhando o voo dos “Catalinas” da FAB, lá no alto, lá no céu, beijando as nuvens, em voos de treinamento de estóis, monomotor simulado, velocidade reduzida, arremetidas no ar e tantas outras manobras necessárias para tornar os pilotos aptos para os perigosos voos sobre o “Inferno Verde”, outro nome da majestosa floresta amazônica.  Bem em frente de casa ficava a “Reta Final” para pouso no aeroporto internacional de Val-de-Cans, “o maior Aeroporto do mundo”! Os aviões da época eram os Douglas DC-3, os Curtiss C-46, os garbosos “Constelations”, das antigas companhias de aviação: -- Cruzeiro do Sul, Lóide Aéreo, NAB, PANAIR; não me lembro se já existia a VARIG. Vez em quando chegavam aviões da PANAM, vindo dos Estados Unidos, para pousos técnicos em Belém. Chegavam de tardezinha vindos do Rio, São Paulo, Manaus, Santarém, Miami; passavam tão baixos, com seus trens e flaps baixados, quase roçando as linhas enceradas dos nossos papagaios. Já naqueles tempos os meus sonhos se resumiam em ser piloto daqueles “enormes” aviões! Não deu outra: com 16anos, 1957, ingressei na EPC do Ar, em Barbacena, “a cidade das rosas e do melhor clima do Brasil”, de onde “decolei” para grandes e saudosas missões nos aviões da nossa querida Força Aérea Brasileira!

Coronel Maciel.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 26 de março de 2022

É DOCE VIVER ASSIM.

 

É doce viver assim.

“Tem certos dias” quando a tristeza vem chegando, querendo tomar conta da gente. É nesses dias que  vou saindo por aí, dirigindo com todo cuidado, agora que estou sem CNH, depois que uma filha de uma égua, caçou minha carteira, dizendo que sou “cego e surdo”, e pra voltar só depois de curado. -- Mas minha senhora, pilotei avião durante minha vida toda; nunca arranhei nenhum; nunca matei, nem nunca atropelei ninguém no trânsito, e só agora a senhora vem com essas exigências todas?  -- Não importa; só volte aqui depois de curado, ela disse mangando e rindo para uma empregada que limpava o chão. Me deu vontade de dar-lhe  “umas porradas”, mas depois pensei: em mulher não se bate, se deixa! Melhor dirigir fora da lei; o resto que “phoda” Não voltei, nem nunca vou voltar.  Logo em seguida fui na “Redinha”, relaxar e bater um papo com meus amigos pescadores, alguns também “Fora da Lei”. Fui conversar com dona “Cilândria”, dona do “Bar Azul”, que me perguntou se eu “ainda bebia”. Só se for muito! Então aproveite para beber minha batida de “Pitanga”, feita especialmente para você, disse, explodindo numa gostosa gargalhada! Tomei uma; tomei duas, tomei três, quando olhei, vi, pendendo na parede um velho violão. Perguntei se podia tocar, e logo estávamos cantando, acompanhado pela “Mariazinha”, sua sobrinha, cantando assim pra gente: ----Praieira dos meus amores/ Encanto do meu olhar! /Quero contar-te os rigores /Sofridos a pensar / Em ti sobre o alto mar... / Ai! Não sabes quantas saudades/ Padece o nauta ao partir/ Sentindo na imensidade/ O seu batel fugir,/ Incerto do porvir!

É doce viver assim...

Coronel Maciel.

 

MALÁRIA.

 

Malária Nervosa.

Não sei se devido a muita “cana” nos pernoites; não sei se devido ao “Autan”, uma loção de “corpo inteiro” para espantar o “Plasmodium Falciparum”,  popular mosquito transmissor da Malária; só sei que nunca peguei essa maldita doença, muito comum na minha Amazónia querida. Doença  tratada com muito Quinino por alguns, e muita “cana” por outros. Uma vez, quando já íamos dar partida nos motores para decolar de “Jacareacanga” rumo à Santarém, o Tenente Médico da Tripulação veio correndo me avisar que acabava de chegar uma menina dos seus 10, 12 anos, que teria de qualquer maneira ser transportada para Santarém, se não, não tinha escapatória, pois ela estava sendo consumida pela “Malária Nervosa”. O nosso velho “C-47-Dakota” vivia sempre cheio; verdadeiro coração de mãe; sempre superlotado. Autorizado o embarque, tivemos que armar  uma rede na “barriga” do Dakota e, na companhia do pai, decolamos. O sol era quente; era um sol de meio dia. No meio do caminho, o médico me avisa que a menina tinha morrido Chamei o pai da criança e perguntei o que ele queria que eu fizesse; ele pediu que voltássemos para Jacaré, pois em Santarém ia ficar tudo muito “mais pior”, como ele me dizia. Não tive dúvidas: meia volta volver, pousamos  em Jacaré, quando dei um forte abraço no velho, que, chorando muito,muito me agradecia.Voávamos muito naqueles velhos tempos; tempos do Trinômio FAB-Missionário-Índio”. Não sei se essa FAB ainda existe...

Coronel Maciel.

sexta-feira, 18 de março de 2022

GUERRA É GUERRA!

 Guerra é guerra.

Dizia aquela velhinha troiana violentamente estuprada durante a “Guerra de Tróia”, quando os “Deuses” da época tomavam parte nas guerras! Quando os nossos queridos “Irmãos do Norte” resolveram bombardear o Japão com suas bombinhas atômicas, vingando o ataque a “Pearl Harbor”, não pensaram nem um segundo nas consequências; nas criancinhas japonesas; nos velhinhos japoneses; nos seus hospitais; etc., etc, e etc. Só pensavam em terminar uma guerra que poderia durar por mais não sei quantos anos, pois os “japas” jamais iriam se entregar. Bombinhas que hoje servem de espoleta para as “Bombonas de Hidrogênio” de hoje! Bombinhas que mataram centenas de milhares de “japinhas” em poucos mais de dois segundos. Putin luta sozinho contra as “esquerdas” do mundo inteiro. Quando ficar realmente “puto”, e não vai demorar muito, vai acabar tendo que usar seu arsenal atômico, obrigando os outros países donos do mundo a usarem os seus, quando será dada a partida   para o começo do fim do mundo. Quem brinca com fogo pode se queimar; principalmente se for fogo atômico! Tudo depende dos americanos? Não sei; só sei que sou obrigado a  tirar o meu chapéu para os americanos, considerando-se que foram  descobertos ne mesma época do nosso, eles se tornaram o país mais rico e poderoso do mundo; donos das maiores e melhores Universidades do mundo. Mesmo sabendo que eles não  refrescam “cu de pato”, e que  só pensam neles mesmos,  sou  obrigado a tirar o meu chapéu para os donos da maior Força Aérea do mundo!

Coronel Maciel.

quinta-feira, 10 de março de 2022

VELHOS TEMPOS.

 

Velhos tempos.

Depois de passar seis longos anos dormindo ao som do esperado “Toque de Silêncio”; e despertando ao frio “Toque de Alvorada”; logo em seguida declarado “Aspirante--Aviador”, verdadeiro “Rei do Mundo”;  “Troço-Paca”, fui pousar em Pirassununga, agora com Segundo-Tenente-Aviador. Era então 1964, quando ficamos “doidos varridos” vendo tantas paulistinhas lindas e carinhosas fazendo “footing” na linda pracinha da cidade; ou dançando nos Clubes de uma das mais lindas cidades do mundo. Ora, os pais e responsáveis, alarmados com evidentes possibilidades da perda dos “trens” das meninas, entre tantos pousos, decolagens e perigosas arremetidas, reuniram-se em “Congresso” e foram pedir providências ao Comandante do ainda Destacamento Precursor da hoje “Academia da Força Aérea”. No meio de tantos problemas a serem resolvidos, pois o Destacamento era “Precursor”, isto é, era só problemas a resolver, e para manter a prioridade maior, o Voo de Instrução para os Cadetes do último ano,  que não podia parar.  Informado pelo Oficial de Dia da presença da Comissão, que “exigiam” ser recebidos pelo Comandante, o qual, diga-se de passagem, era “macho do culhão roxo”; e “mais grosso que papel de embrulhar prego”, o nosso saudoso Coronel-Aviador Miguel da Cunha lana, mandou dizer aos pálidos integrantes da Comissão, que “não era tramela de buceta de ninguém”... Velhos tempos... kkkkk

Coronel Maciel.

terça-feira, 8 de março de 2022

VOVÓ FALEI.

 

Vovó falei.

Taí o que dá um comediante; um apresentador de TV virar Presidente. O Zelensky transformou a Ucrânia numa  grande “Balada”, com suas tristes  e “pobres meninas”.  O mesmo faria, por exemplo, o Luciano Huck, como Presidente do Brasil.  Mas daí o Arthur do Val dizer que as meninas de lá são fáceis porque são pobres, é pecado mais que mortal. Merece perdeu a noiva e o mandato.  O Zelensky, maldosamente, ou burramente?, resolveu lutar contra o poderoso exército do Putin, usando coquetéis Molotov, pensando que teria o apoio da OTAN. Ora,  querer jogar a OTAN contra a Rússia, só para defender a Ucrânia, é brincadeira. Podia muito bem “administrar” o caso, dizendo para o Putin que não iria deixar a Ucrânia  cair nos braços da OTAN, que na realidade  não passa de um braço armado com bombas nucleares dos  americanos, agora nas mãos do “Bidê”, que mais parece um freirinha com terços nas mãos pedindo para  Deus salvar  a América. Só nos resta agora mandar a mamãe FAB trazer os nossos brasileirinhos, com medo de  morrer na Ucrânia; assim com fizemos com os brasileirinhos com medo de morrer na China.

Vovó falei... kkkkk

quinta-feira, 3 de março de 2022

CORONEL CORISCO.

Chega de guerra! Hoje vamos falar de coisas boas, começando com coisas ruins. Foi na época da "Nova República”. Época das eufóricas esquerdas; da era Sarney. Eu servia no Segundo Comar, em Recife, quando o Brigadeiro Castelo Branco, hoje voando entre as estrelas dos céus, foi intempestivamente demitido do Comando, por ordem dos novos “chefões” da FAB. Como eu era seu Chefe de Gabinete, fui "pará” em Belém do Pará. De Belém, logo outra transferência, desta vez para Brasília, quando, revoltado, escrevi um artigo que me proporcionou 15 dias de cadeia, sem fazer serviço. Novo castigo, nova transferência, desta vez de Brasília para o Rio, onde dei meus últimos suspiros na minha querida Força Aérea Brasileira. Desisti; queriam mesmo me expulsar da FAB; abusaram demais. Mas foi tudo por culpa do “Degas” aqui, este velho piloto hangarado, pilotando uma alma cheia de arestas. Chegando ao Rio, fui procurar abrigo no Cassino da Base Aérea do Galeão. Dando uma olhadinha na lista de hóspedes, lá encontrei o nome do Corisco. É neste quarto mesmo que eu vou ficar, disse para o ”estalajadeiro”. Bati no quarto. É bom que se diga que me acompanhavam um violão, duas tristezas na mala e muita saudade de casa. Corisco me recebeu de braços abertos; um longo e fraternal abraço, dizendo: - Mano velho, você por aqui?!--Fiquei sabendo das sacanagens que fizeram com você. Seja bem-vindo ao seu novo lar... kkkkkkkkkkkkkkk e soltou uma das suas mais estrondosas gargalhadas! Corisco já estava  um tanto quanto "melado". Era um domingo, de tardezinha. Perguntou se eu aceitava um cabo, ou um sargento. Um cabo, era o mesmo que dizer dois dedinhos de cana; um sargento... Não demora muito, e já estávamos cantando as músicas do Luís Gonzaga, músicas que ele adorava! Houve uma hora em que ele não resistiu de tanta emoção e largou o maior "Dó de Peito”, acordando as almas todas do Cassino! :-- Só deixo o meu Cariri/No último pau de arara... No dia seguinte ele me prega a mais gostosa das surpresas:- - Entro no quarto e dei de cara com engradados de “Pilsen Extra”! Dúzias e dúzias de “felicidade engarrafada”. Um fogãozinho elétrico para fazer uns tira-gosto e um freezer. Era o bastante pra matar nossas saudades. Corisco gostava muito das histórias de Lampião:- - “Volta-Seca”, solte os presos, que o mundo já é prisão. Corisco lembrava o jeitão do Corisco, da Turma de Lampião. Daí o porquê dele ser mais conhecido como "Corisco", o nosso saudoso Coronel Intendente Eraldo Correia de Lima, hoje com certeza gozando as delícias de morar lá nos céus, quem sabe sempre "melado", degustando os vinhos dos Deuses, na companhia dos anjos tocando violões em serenatas, e das mais belas anjas: brancas, louras, negras, mulatas, morenas, gordinhas, magrinhas, baixinhas ou gigantes; cantando hinos Gregorianos, nas suas eternas noitadas nos céus...

PS:- - Espere por mim, mano velho!

Coronel Maciel.