Fogo no motor!
Com certeza os “meus
amados ouvintes”, assim como eu, já estamos, não vou dizer de saco cheio, que é
feio; mas cansados de tantas mortes pelo mundo à fora causadas por este
infernal corona vírus, foi que me lembrei de lhes contar um verdadeiro sufoco
que passamos quando no comando de um corajoso Dakota C-47; foi assim; decolamos
de Carauari, linda cidadezinha situada nas margens do Rio Juruá. Chovia muito;
freiras, freirinhas, padres; índios, índias, pajés, macacos, papagaios, tartarugas,
todos com os seus variados medos, rezando seus variados e exóticos tipos de
orações; nunca gostei de ver ninguém rezando no meu avião; como se aquilo não
fosse o meu mais seguro meio de vida; fui entrando e falando alto: -- quem for
de reza, reze, porque o tempo está como o diabo pediu a São Pedro; passarinho
está indo pra casa a pé! Estávamos com mais de 40 pessoas a bordo, bem acima do
normal, mas dentro do peso normal, pois aqueles meus passageiros eram
ribeirinhos que estavam bem abaixo do peso normal; decolamos, nariz pra cima,
onde alcançamos um topo bem definido, agora já livre das chuvas e relâmpagos; estávamos
no meio do caminho, rumo a Eirunepé, quando a cabeça de uns dos enormes
cilindros voou pelos ares, quase levando consigo a carenagem do motor esquerdo;
ora, o meu copila era um tenente novinho, coitado; um R2 que fazia sua primeira
viagem sobre a densa floresta amazônica. Quando ele viu o motor pegando fogo,
ficou “pálido de espanto”, e, graças a Deus, desmaiou. Foi melhor; fiquei
sozinho para tomar as minhas decisões; para encurtar a história: o que seria
uma hora de voo transformou-se em duas horas de extremo sufoco, voando baixo, monomotor,
sobrevoando o Rio que é muito, mas muito sinuoso, pois, pensava eu, se o motor
direito pifar, eu me jogo sobre o rio, livrando das enormes árvores, árvores
com mais de dez “andares” de altura, rodeadas de bilhões de mosquitinhos,
onças, cobras e jacarés. Conseguimos chegar a Eirunepé já no “lusco-fusco”,
quando, acredite quem quiser, fui carregado pelos ares como verdadeiro herói
pelos incrédulos passageiros! E foi só na hora do jantar oferecido pelo Prefeito,
que estava alegre, risonho e feliz por termos salvo sua família inteira que
estava a bordo; e depois de tomar um copo generoso da “branquinha”, foi que
senti minhas pernas tremerem, lembrando da minha mulher e dos meus filhos ainda
pequenos que deviam estar em casa, em Belém, alegres e brincando, sem
desconfiar de nada; tem outros detalhes curiosos, mas como o meu espaço é
curto, fica para outro dia, lembrando que quem escapa de um perigo ama a vida
com mais intensidade... kkkkk
Coronel Maciel.