segunda-feira, 6 de abril de 2020

FOGO NO MOTOR!


Fogo no motor!
Com certeza os “meus amados ouvintes”, assim como eu, já estamos, não vou dizer de saco cheio, que é feio; mas cansados de tantas mortes pelo mundo à fora causadas por este infernal corona vírus, foi que me lembrei de lhes contar um verdadeiro sufoco que passamos quando no comando de um corajoso Dakota C-47; foi assim; decolamos de Carauari, linda cidadezinha situada nas margens do Rio Juruá. Chovia muito; freiras, freirinhas, padres; índios, índias, pajés, macacos, papagaios, tartarugas, todos com os seus variados medos, rezando seus variados e exóticos tipos de orações; nunca gostei de ver ninguém rezando no meu avião; como se aquilo não fosse o meu mais seguro meio de vida; fui entrando e falando alto: -- quem for de reza, reze, porque o tempo está como o diabo pediu a São Pedro; passarinho está indo pra casa a pé! Estávamos com mais de 40 pessoas a bordo, bem acima do normal, mas dentro do peso normal, pois aqueles meus passageiros eram ribeirinhos que estavam bem abaixo do peso normal; decolamos, nariz pra cima, onde alcançamos um topo bem definido, agora já livre das chuvas e relâmpagos; estávamos no meio do caminho, rumo a Eirunepé, quando a cabeça de uns dos enormes cilindros voou pelos ares, quase levando consigo a carenagem do motor esquerdo; ora, o meu copila era um tenente novinho, coitado; um R2 que fazia sua primeira viagem sobre a densa floresta amazônica. Quando ele viu o motor pegando fogo, ficou “pálido de espanto”, e, graças a Deus, desmaiou. Foi melhor; fiquei sozinho para tomar as minhas decisões; para encurtar a história: o que seria uma hora de voo transformou-se em duas horas de extremo sufoco, voando baixo, monomotor, sobrevoando o Rio que é muito, mas muito sinuoso, pois, pensava eu, se o motor direito pifar, eu me jogo sobre o rio, livrando das enormes árvores, árvores com mais de dez “andares” de altura, rodeadas de bilhões de mosquitinhos, onças, cobras e jacarés. Conseguimos chegar a Eirunepé já no “lusco-fusco”, quando, acredite quem quiser, fui carregado pelos ares como verdadeiro herói pelos incrédulos passageiros! E foi só na hora do jantar oferecido pelo Prefeito, que estava alegre, risonho e feliz por termos salvo sua família inteira que estava a bordo; e depois de tomar um copo generoso da “branquinha”, foi que senti minhas pernas tremerem, lembrando da minha mulher e dos meus filhos ainda pequenos que deviam estar em casa, em Belém, alegres e brincando, sem desconfiar de nada; tem outros detalhes curiosos, mas como o meu espaço é curto, fica para outro dia, lembrando que quem escapa de um perigo ama a vida com mais  intensidade... kkkkk
Coronel Maciel.

 


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