sexta-feira, 10 de abril de 2020

INFERNO VERDE.


Inferno Verde.
Leio nos jornais: Menino índio Ianomâmi de 15 anos morre vítima do “Vírus Chinês”. Triste caso que me fez lembrar aqueles velhos tempos pilotando aqueles velhos aviões da nossa velha e querida Força Aérea Brasileira; velhos, mas quão destemidos!  Foram milhares de horas voadas. Uma vez, pousando numa daquelas pequeninas pistas, tão curtas, quanto estreitas, exigindo pousos “mais que perfeitos”, senão as pontas das asas do velho Douglas tocariam nas enormes castanheiras que margeavam aquelas pistas, pistas que mais pareciam pistas de aeromodelos. Cortados os motores, liberados os passageiros, havia sempre aquela choradeira: o choro é o jeito que os índios têm para demonstrar alegria pela volta dos seus entes queridos, que trazíamos nas missões do CAN-AM (Correio Aéreo Nacional da Amazônia), após tratamentos médicos indispensáveis em Manaus. Mas neste caso específico a choradeira era também porque, durante o pouso “curtíssimo”, o cachorro magro e de estimação do “Pajé”, verdadeiro rei daquela pequena tribo de índios “Ianomâmis”, correu na direção do avião, e acabou morrendo “atropelado”, mesmo depois das mandingas e “orações” desesperadas feitas pelo “Pajé”, que não gostou nada do acontecido, pois me olhava com raiva, mostrando o seu enorme e ameaçador tacape. Foi quando eu percebi que as rodas do avião estavam quase pegando fogo, devido à intensidade dos freios aplicados para não “varar a pista”. Mandei que o meu “copila” corresse e dessa partida nos motores, para que o vento das hélices apagasse a iminência de fogo, o que provocaria o estouro dos pneus. Foi quando, inesperadamente, uma indiazinha que ia viajar conosco, pensando que o avião ia partir, correu para embarcar, vindo com tudo na direção das hélices em movimento. Foi quando eu corri e me joguei agarrado com a menina ao chão, evitando mais um “probleminha”; probleminha que se transformaria num problemão, pois o “Pajé” não iria mais me “perdoar”; e certamente eu não estaria aqui a lhes contar essas historinhas. São tantas “coisinhas miúdas”; são tantas as lendas, os casos, os lindos pernoites que guardamos na memória, ocorridos durante aqueles nossos velhos e inesquecíveis tempos sobrevoando o imenso, o lindo e perigoso “Inferno Verde Amazônico”.
Coronel Maciel.

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