quarta-feira, 8 de abril de 2020

OS ROUXINÓIS DO RIO NEGRO.


Os Rouxinóis do Rio Negro.
Quantas e quantas vezes, mecânicos, rádios telegrafistas, pilotos, todos nós, tripulantes dos aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base Aérea de Belém, pernoitamos nas antigas missões dos padres “Salesianos”, ao longo do majestoso Rio Negro. Quantas vezes, logo após o café da manhã, antes da partida, o Comandante era solicitado pela Madre Superiora a escrever alguma coisa sobre aquele pernoite; um agradecimento qualquer; uma simples mensagem; qualquer coisa assim. Lembro-me bem daquele dia que pernoitamos em Yauaretê, pequenina pérola quase esquecida no extremo noroeste do nosso Estadão do Amazonas, numa região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança formada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos; suas asas são “mais negras que as asas das graúnas”; penas douradas lhes cobrem o papo inteiro; ficam tão mansos que voam para o alto das árvores mais frondosas, para logo voltar para os braços e abraços ao primeiro chamado dos seus verdadeiros donos! Os nossos aviões também eram assim, iguais àqueles lindos rouxinóis: -- Voavam, voavam e voavam e depois voltavam ao ninho antigo... Alguns nunca voltavam... Naquele dia, a nave americana “Columbia” decolava para mais uma missão. Foi então que eu, aproveitando a deixa, escrevi no famoso “Livro das Freiras”: “—Neste tão lindo dia em que a nave Columbia decolou para o seu segundo voo orbital em volta da terra, uma outra nave, muito mais velha, mas muito mais querida, estará cruzando os céus amazônicos transportando em suas asas prateadas as cargas divinas da esperança! São os esperados bilhetinhos; são as cartinhas de amor; são os milagrosos remédios; são os médicos, os dentistas; os velhos jornais e revistas para serem distribuídas pelas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés, comunidades tão carentes das novidades das cidades grandes. E como todos nós, românticos aviadores, guardamos nas nossa maletinhas de viagem nossas veias romântico-poéticas, “solenizei” aquela despedida com os seguintes versos, puxados do fundo do nosso velho baú: -- E a nave Columbia/Lá do alto, lá do céu/ Não se cansa de dizer: -- Ó Dakota, meu irmão/Que sejas sempre fiel/ Ao Capitão Maciel/E sua tripulação...” Tudo fazendo parte das sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos, sobrevoando a imensa, a linda, a majestosa Floresta Amazônica!
Coronel Maciel.













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