Os Rouxinóis do Rio
Negro.
Quantas e quantas
vezes, mecânicos, rádios telegrafistas, pilotos, todos nós, tripulantes dos
aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base
Aérea de Belém, pernoitamos nas antigas missões dos padres “Salesianos”, ao
longo do majestoso Rio Negro. Quantas vezes, logo após o café da manhã, antes
da partida, o Comandante era solicitado pela Madre Superiora a escrever alguma
coisa sobre aquele pernoite; um agradecimento qualquer; uma simples mensagem;
qualquer coisa assim. Lembro-me bem daquele dia que pernoitamos em Yauaretê,
pequenina pérola quase esquecida no extremo noroeste do nosso Estadão do
Amazonas, numa região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança
formada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um
cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos; suas asas
são “mais negras que as asas das graúnas”; penas douradas lhes cobrem o papo
inteiro; ficam tão mansos que voam para o alto das árvores mais frondosas, para
logo voltar para os braços e abraços ao primeiro chamado dos seus verdadeiros
donos! Os nossos aviões também eram assim, iguais àqueles lindos rouxinóis: --
Voavam, voavam e voavam e depois voltavam ao ninho antigo... Alguns nunca
voltavam... Naquele dia, a nave americana “Columbia” decolava para mais uma
missão. Foi então que eu, aproveitando a deixa, escrevi no famoso “Livro das
Freiras”: “—Neste tão lindo dia em que a nave Columbia decolou para o seu
segundo voo orbital em volta da terra, uma outra nave, muito mais velha, mas muito
mais querida, estará cruzando os céus amazônicos transportando em suas asas
prateadas as cargas divinas da esperança! São os esperados bilhetinhos; são as
cartinhas de amor; são os milagrosos remédios; são os médicos, os dentistas; os
velhos jornais e revistas para serem distribuídas pelas comunidades ribeirinhas
ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés, comunidades tão carentes
das novidades das cidades grandes. E como todos nós, românticos aviadores,
guardamos nas nossa maletinhas de viagem nossas veias romântico-poéticas, “solenizei”
aquela despedida com os seguintes versos, puxados do fundo do nosso velho baú:
-- E a nave Columbia/Lá do alto, lá do céu/ Não se cansa de dizer: -- Ó Dakota,
meu irmão/Que sejas sempre fiel/ Ao Capitão Maciel/E sua tripulação...” Tudo
fazendo parte das sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos,
sobrevoando a imensa, a linda, a majestosa Floresta Amazônica!
Coronel Maciel.
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