Desculpe o Auê.
Às vezes alguém me
pergunta por que sou 8 ou 80. Por que eu digo coisas com a mão direita, coisas
que muitos acham belas, lindas, inocentes; mas quando uso a mão esquerda, as “esquerdas”
não gostam de ouvir. Ora, é muito fácil explicar, e nada melhor que um bom
palavrão para resumir tudo o que sinto: -- É foda, meu irmão; é muito foda
mesmo, passar uma vida inteira, como muitos de nós passamos, sendo chamados de
assassinos; de cruéis torturadores, sem nunca termos dado o mais leve beliscão;
nem eu e nem a imensa maioria dos nossos amigos, militares como eu, que nunca
fizemos mal a ninguém; a nenhum desses que assim nos humilham. Ora, coronel, paga o justo pelo pecador; faça
como aquele filho de Deus que, apanhando numa face, logo entregava a outra,
pedindo para esse Deus, seu Pai, que os perdoassem, “pois eles não sabem o que
fazem”. Não sou também nenhum “santinho”; viro uma fera, assim como todos nós viramos,
quando alguém nos pisa nos calos. Também não sou desses “machões – machões”,
que na hora do perigo se cagam todo de medo. Também não sou daqueles que acham que coragem
não é como preguiça, que todo mundo tem; não; todos nós temos nossos medos; mas
medo é uma coisa; covardia é outra, e muito; muito diferente. Desculpem o “Auê”
...
Coronel Maciel.
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