quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Meus "Anjos da Guarda".


Eram 3 horas de uma fria manhã de Junho quando fui acordado no meu aconchegante quartinho, no “Hotel Aliança”, na minha Barbacena querida. Chovia muito. O Camarão não quis nem saber; eu era o seu tenente “Fura Bola”, pronto para qualquer missão impossível.  Barbacena, vocês sabem, é rodeada de montanhas por todos os lados, assim como a rota para o Galeão.

Chegando à Escola Preparatória de Cadetes do Ar (O Camarão costumava passar noites e noites acordado, sozinho na sua sala de Comando. O dia tinha poucas horas para o muito que ele pretendia fazer, e fez, na EPC do Ar) o Brigadeiro foi logo me dizendo: -- Fura Bolo, vem cá. -- Pega um T-6 e me leva esses documentos e os entregue nas mãos do comandante de um C-54 que vai decolar daqui à pouco para Washington. -- Mensagem à Garcia, Brigadeiro? -- O Galeão está fechado para voos visuais... O Camarão sorriu com aqueles seus cabelos brancos, querendo me dizer que sim.

 O meu sempre fiel e corajoso T-6, justo naquele dia, não estava em perfeitas condições para um perfeito voo por instrumentos.  -- Mensagem à Garcia; decolei.

Missão cumprida! Na hora do café matinal, junto com todos os outros oficiais, também estava eu, no bem bom, tomando o meu café, para surpresa do Camarão, que perguntou, muito sério, por que “abortara a missão”. Brigadeiro -- retruquei sorrindo:-- Não só fui, com já voltei! O Brigadeiro deu uma estrondosa gargalhada, me abraçou, e disse para todo mundo ouvir: -- Este é o meu tenente Fura Bola, cumpridor de qualquer missão...

Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço e outras “leãozadas” que eu (modéstia à parte)  já fiz.   

Se hoje estou vivo, não sei bem por que, pois foram tantas as indisciplinas de voo que já fiz pelos céus azul ou cheio de nuvens, relâmpagos e trovoadas deste meu imenso Brasil. Foram tantas que hoje, velho piloto hangarado, às vezes eu chego a duvidar...

 A era da aviação romântica, a nossa aviação, já passou. Hoje vivemos a era do GPS. A era dos aviões pilotados pelos computadores de bordo, quando os pilotos são meros observadores dos mais incríveis “Avionics”.

É fácil viver e não morrer de maneiras tão absurdas e incríveis durante o mais nobre de todos os ideais: A Aviação. É só não fazer o que eu costumava fazer. Nem todos têm os anjos da guarda que eu tive... kkkkk

Coronel Maciel.

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