domingo, 21 de abril de 2019

COISAS DE UM BRIGADEIRO, QUE ATÉ DEUS DUVIDA!


                        Coisas do Camarão, que até Deus duvida.
Quem foi ao Pará parou; tomou tacacá, ficou! -- Não são poucos militares das bandas do Sul que foram servir Belém, por castigo! -- Por castigo? – Sim, por castigo. Belém, antigamente, era assim! Quem era “escalado” para servir na Amazônia, alguma coisa de errado havia feito.  “Quem gosta de mato é veado; e quem gosta de norte é agulha magnética”, era o antigo “refrão”. Muitos acabaram ficando por lá, depois que descobriram as delícias das comidas da lá, e das suas lindas morenas, “quentes e úmidas”, como é o clima de lá. Casaram-se e deram-se muito bem. E nunca mais quiseram sair da lá, da minha doce cidade morena.
Peço licença para também contar algumas “paradas” de “um grande amigo meu”, o Brigadeiro Camarão, hoje brilhando entre as estrelas dos céus. Servimos juntos na EPC do AR. Naqueles idos de 66, 67, eu era um Tenente Aviador solteirão, livre e desimpedido. Ficamos amigos depois que ele ficou sabendo que eu era paraense; e paraense da gema! O Camarão era um apaixonado pela Amazônia. Naqueles bons tempos, eu lhe dizia que eu só me tornei oficial da FAB porque fui para o Rio terminar a Quarta Ginasial, quando também frequentei um Cursinho Preparatório, o “Salgado Filho”, em Cascadura. Estudava direto, sem parar e sem descanso. Era o ano de 1956. Dizia-lhe eu: -- Brigadeiro, não tivesse sido assim, eu estaria até hoje empinando papagaio, jogando peteca, pegando pião na unha, criando galos de briga, jogando peladas nas ruas da minha doce cidade morena. Naquela época, em Belém, ninguém sabia informar direito como ingressar na FAB. Foi quando ele ficou pensando, pensando; me olhando com aquele seu olhar profundo e inteligente e perguntou se eu “topava” pegar um T-6 e ir fazer propaganda da Escola pela Amazônia. -- Aceitei na hora! -- Ainda mais quando ele disse que eu podia demorar o tempo que eu quisesse. Decolei com o meu T-6 abarrotado com tudo o que havia sobre a EPC. Fui à São Luís, Belém, Santarém, Manaus até Tabatinga, divulgando o máximo a minha Escola tão querida! Os pilotos meus conhecidos que serviam em Belém, acostumados a voar em aviões maiores e mais bem equipados, ficavam admirados como eu me atrevia a voar, num avião monomotor, em rotas tão longas e “perigosas”. Eu só fazia rir. Antes do pousar, eu dava alguns “rasantes”, fazia algumas acrobacias, para não dizer que “quebrava o pau mesmo! ”-- para “avisar” da minha chegada! -- Nos ginásios, auditórios, escolas públicas, particulares, até durante uma missa em Santarém, durante um sermão feito por um padre amigo meu, lá estava eu fazendo propaganda da Escola. Dizia às “crianças” que me ouviam e me perguntavam “se era eu quem havia feito aquelas quebras rasantes” que -- para compensar a falta de cursos preparatórios na Amazônia, o Comandante da Escola resolvera colocar no concurso daquele ano o “Teste de Inteligência”, que era tão ou mais importante que o português e matemática exigidos no concurso; estas matérias, entre outras, dizia-lhes eu, eles iriam realmente aprender quando na Escola. O meu empenho foi tão grande, que o jornal “O Liberal” de Belém publicou na primeira página, com evidente exagero, que: -- “Oficial-Aviador-Paraense não quer mais saber de paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos na EPC do AR! -- Só paraenses! ” -- Levei o jornal para o Brigadeiro ler, quando ele quase morreu de rir!
Mas valeu a pena. No ano seguinte o Camarão me chamou para comemorar a grande quantidade de paraenses, maranhenses, amazonenses que ingressaram na EPC. -- Muito bem, “Fura Bolo” – era assim que ele carinhosamente me chamava; nunca tantos “Amazônidas” como neste ano! Muito obrigado! 
Grande Brigadeiro Camarão!
Coronel Maciel.




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