quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CNH

 

CNH.

Depois de ter voado esse tempão todo, sem nunca ter, nem de leva, arranhado nem uma das queridas e saudosas garças que voei. Depois de ter dirigido meus carrinhos por este Brasil a fora, sem nunca ter maltratado nenhum deles; nem a eles, nem  a ninguém, desde quando tirei minha carteira quando Aspirante em Natal, até chegar nesses meus velhos cabelos brancos de 80 anos, nunca fui reprovado no exame para renovar a carteira de motorista. Devo ter dado muito azar ao ser examinado pela carrancuda examinadora que, sob risinhos da senhora que limpava o chão do local do exame; e que com toda certeza sempre foi muito mal-amada pelo corno do marido, fui reprovado no exame de ouvido e visão. Minha senhora, dizia eu: -- estou lhe ouvindo bem, mas não estou entendendo o que a senhora quer dizer, devido a esse vidro que nos separa, e dessa grossa máscara que a senhora usa; e nem dessas letrinhas que a senhora quer que eu leia, lá longe. Nas ruas onde dirigimos as letras não são desses tamaninhos. Não adiantou de porra nenhuma os meus tímidos apelos: -- Vá se tratar e volte aqui.  Vejam só, meus amados ouvintes; até ontem eu estava apto para dirigir; hoje não estou mais. Foda-se, disse para mim mesmo; chega de humilhações. Ajudado pelos meus 80 anos, vou redobrar os cuidados; vou dirigir sem carteira, mesmo sabendo que é crime. Foda-se! Mas fiquei assim pensando: da mesma maneira nós ficamos sujeitos às vontades das “mais altas autoridades” que fazem o que querem com a vida da gente. Puta merda! Ou melhor: --Puta que os pariu.

Coronel Maciel.

 

 

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