segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MEDOS E CORAGEM.

 

Medos e coragem.

Minha vó sempre me dizia: -- Meu filho, coragem não é como preguiça, que todo mundo tem! Hoje não sei se teria coragem de fazer as grandes “leãozadas” que eu fazia; que nós fazíamos, naqueles nossos velhos tempos, pilotando nossos saudosos T-6. Me lembro uma vez, era mais ou menos meia noite; voando solo; bem no meio daquele marzão entre Ilhéus e Salvador; no meio de chuvas, relâmpagos e trovoadas; a “cabeça do cilindro’ esfriando e o motor começando a tossir. Cheguei até a rezar de tanto medo, quando eu vi; -- eu juro que vi -- uma espécie de diabinho chifrudo acenando pra mim, na ponta da asa esquerda. É fogo! Senti outros medos. Outra vez foi quando a cabeça de um dos enormes cilindros do meu Dakota C-47, “voou pelos ares”, também dentro de chuvas, relâmpagos e trovoadas, bem em cima do Rio Juruá, com o motor pegando fogo. Foram duas horas “monomotor”. As distâncias na floresta amazônica são enormes. O meu copila, coitado, Tenente R2 novinho, “amarelou”, dizendo: -- Vamos morrer. Foi quando o nosso bom mecânico correu, abriu sua maletinha, e trouxe a sua inseparável garrafinha de cana; me ofereceu um trago, dizendo: já que vamos morrer, não é, Capitão Maciel... Tive que rir, mas me controlei, e só aceitei copos e mais copos da branquinha no jantar, que nos foi oferecido pelo Prefeito de Eirunepê, cuja família estava toda a bordo. Foi quando, eu também juro, me deu uma tremedeira nas pernas, lembrando dos meus filhos e da minha mulher que estavam tranquilos, brincando lá em casa, na Vila dos Oficiais, na Maracangalha, lá no meu Belém do Pará, inocentes, sem saber de nada. Quem escapa de um perigo ama a vida com mais intensidade... kkkkkk

Coronel Maciel.

 

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