Medos e coragem.
Minha vó sempre me dizia:
-- Meu filho, coragem não é como preguiça, que todo mundo tem! Hoje não sei se
teria coragem de fazer as grandes “leãozadas” que eu fazia; que nós fazíamos,
naqueles nossos velhos tempos, pilotando nossos saudosos T-6. Me lembro uma vez,
era mais ou menos meia noite; voando solo; bem no meio daquele marzão entre
Ilhéus e Salvador; no meio de chuvas, relâmpagos e trovoadas; a “cabeça do cilindro’
esfriando e o motor começando a tossir. Cheguei até a rezar de tanto medo,
quando eu vi; -- eu juro que vi -- uma espécie de diabinho chifrudo acenando
pra mim, na ponta da asa esquerda. É fogo! Senti outros medos. Outra vez foi
quando a cabeça de um dos enormes cilindros do meu Dakota C-47, “voou pelos
ares”, também dentro de chuvas, relâmpagos e trovoadas, bem em cima do Rio
Juruá, com o motor pegando fogo. Foram duas horas “monomotor”. As distâncias na
floresta amazônica são enormes. O meu copila, coitado, Tenente R2 novinho, “amarelou”,
dizendo: -- Vamos morrer. Foi quando o nosso bom mecânico correu, abriu sua
maletinha, e trouxe a sua inseparável garrafinha de cana; me ofereceu um trago,
dizendo: já que vamos morrer, não é, Capitão Maciel... Tive que rir, mas me
controlei, e só aceitei copos e mais copos da branquinha no jantar, que nos foi
oferecido pelo Prefeito de Eirunepê, cuja família estava toda a bordo. Foi
quando, eu também juro, me deu uma tremedeira nas pernas, lembrando dos meus
filhos e da minha mulher que estavam tranquilos, brincando lá em casa, na Vila
dos Oficiais, na Maracangalha, lá no meu Belém do Pará, inocentes, sem saber de
nada. Quem escapa de um perigo ama a vida com mais intensidade... kkkkkk
Coronel Maciel.
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