domingo, 19 de julho de 2020

SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA.



Hoje vou contar pra vocês a história de uma bela mais bela que aquela outra bela dos nossos velhos tempos de crianças; das histórias que nossas avós nos contavam para nós fazer dormir. Existe perdida num canto lá no mais distante norte do Brasil, uma cidadezinha banhada pelo Uaupés, um dos braços mais amado do majestoso Rio Negro; é lá onde mora a pequenina e bela São Gabriel da Cachoeira. Hoje nem sei se ela ainda é linda, pequenina e bela. De lá é que se avista a “Bela Adormecida”, uma montanha que alguém, ninguém sabe quem, mas com certeza algum grande artista, um grande poeta, um grande piloto; um grande aviador; um grande Deus das florestas que por lá se encantou, dando-nos a perfeita imagem de uma bela Virgem Adormecida.  Uma vez, e lá se vão mais de não sei quantos anos, quando aguardávamos o embarque dos passageiros -- e os “meus passageiros” eram sempre assim: -- Padres, freiras, freirinhas, índios, índias, cachorros magros, médicos, remédios, rouxinóis, araras, papagaios, jornais, velhas revistas; de tudo um pouco. Fazia um calor daqueles, debaixo de um imenso sol de meio-dia, bem na linha do Equador, quando uma “voz ecoou”: -- Pega!!! – Pega; pega; é um veado; e logo cachorros magros saíram na maior disparada perseguindo o companheiro. Sentindo-se acuado, sem rumo, perdido, ele voltou do meio da Pista de Pouso, na direção de um cercado, onde eram armazenados os tambores de combustível; pulou a cerca, deu azar, pousou de mau jeito, quebrou o pescoço, morreu, e foi pro céu. Antes de prosseguir na missão, chamamos o nosso amigo Guarda-Campo e pedimos para deixar tudo pronto, aguardando o nosso regresso, para um “churrasco” regado com cachaça e viola. Voltamos de tardezinha e, à noite, nas margens do majestoso Uaupés, olhando ao longe o adormecer da “Bela Adormecida”, iluminada por uma enorme lua cheia, saboreamos o mais delicioso dos churrascos. Quantas saudades daqueles velhos tempos; tempos do “Arco e Flecha”; tempos sem GPS; sem radares, nem celulares; usando o tato e faro para nos guiar; sobrevoando a minha querida, a imensa, a verdejante Floresta Amazônica; saboreando as mais deliciosas comidinhas caseiras: Tacacás; patos no tucupi; caldeiradas de Tucunaré em Santarém, nas margens das águas verdes do Tapajós; suculentas tartarugadas em Eirunepé, nas margens do Juruá. Que deliciosos pernoites; melhor; muito melhor que tudo que existe lá no velho mundo; lá na velha Paris...
Coronel Maciel.


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