terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mensagem a Garcia.


 Em 1898, o navio militar USS Maine foi destruído em Havana, Cuba - então colônia espanhola. Os americanos, alegando que o navio fora sabotado pelos espanhóis, exigiram que a Espanha cedesse independência a Cuba. A recusa dos espanhóis causou o início da guerra.  Pelo Tratado de Paris, a Espanha foi obrigada a ceder Cuba, Porto Rico, Guam e as Filipinas aos Estados Unidos. Cuba logo se tornaria um país independente. As Filipinas teriam sua independência em 1945, enquanto Porto Rico e Guam são até os dias atuais territórios americanos.


 Mas o que eu queria lhes dizer, meus prezados ouvintes, foi um pequeno grande caso ocorrido nessa guerra: o Presidente Mac Kinley precisava comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos chamado Garcia, que se sabia encontrar-se em algum ponto no interior do sertão cubano. Ninguém sabia exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. Mas o presidente precisava comunicar-se com ele, e isto o quanto antes. Que fazer? Alguém então disse ao presidente: “Há um homem chamado Rowan; e só este homem é capaz de encontrar-se com Garcia”. Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta, com a incumbência de entregá-la a Garcia.


Muito bem. De como este homem tomou a carta; meteu-a num invólucro impermeável; amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia. Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou: "Onde é que ele está?”.


 


Uma vez, faz tanto tempo, o Tomé ainda era vivo... Decolamos de BQ para Congonhas, num “Beech Mata Sete”. Eu e o Tenente Tomé Ribeiro Neto, que faleceu em Barbacena, num trágico acidente com um avião T-6. Após alguns minutos de voo, monomotor... Voltamos, para surpresa do Camarão.


Era um dia de sábado, e a missão era improrrogável. Deveríamos trazer dois professores vindos da França, para uma conferência na EPC do Ar, para os alunos e várias autoridades. O próprio Brigadeiro seria tradutor. (O Camarão, além de Francês e outras línguas, falava e escrevia fluentemente o Grego...). Ele então me chamou e me falou bem baixinho: -- “Fura--Bolo”, era assim que ele carinhosamente me chamava, pois eu cumpria qualquer missão, com qualquer tempo (modéstia à parte... rsrs): pegue o Regente e me traga eles aqui...: -- “Mensagem a Garcia”, Brigadeiro? -- Ele me olhou, sorriu e confirmou com um sim, com aquela sua cabeça bem branquinha...


Congonhas estava fechado "instrumentos". O Regente, vocês conhecem... Decolei de Barbacena e pousei em Congonhas, para surpresa e incredulidade geral... Veio um oficial muito mais antigo que eu me dizer o óbvio: que eu havia cometido uma grave “indisciplina de voo” e que por ordem superior eu estava impedido de decolar. Nestas alturas, com os franceses já a bordo, fiquei na dúvida até onde eu poderia avançar... E avancei, colocando no plano de voo “Operação Militar”...


Chegamos em Barbacena  em cima da hora para o início da conferência, para alegria do Brigadeiro. -- Missão cumprida, Brigadeiro! -- Mas vem "bronca" por aí... Ele sorrindo me despreocupou...


Nesse ínterim, eu fui transferido para Natal; e foi lá que eu recebi um "baita" de um "deveis informar". O Coronel Comandante da Base não aceitou minhas risíveis justificativas... :- -"Teje preso"...


Eu estava escalado para uma missão ao Rio, no dia seguinte. O Coronel, lógico, não queria me deixar fazer a missão, já que eu havia recebido “voz de prisão”... Só depois muita insistência, ponderações e explicações deixou-me ir, autorizando também um pouso rápido em BQ. E, lá chegando, após aquele famoso aperto de mão (quebra dedo, de tão forte) e após me ouvir, disse sorrindo:- -- Pode seguir tranquilo, Fura Bolo. Pode deixar que eu resolvo...


Chegando em Natal, o Coronel me olhou assim meio sem jeito e disse que estava tudo resolvido... Que eu não estava mais preso...


Grande Brigadeiro Camarão, hoje voando entre os anjos dos céus! Nunca me deixaria na mão! Grande homem! Missão cumprida, Brigadeiro!


Coronel Maciel.