segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Saudosos Pelotões de Fronteira, hoje tão longes de mim...


Esse caso do “Lewandowski” que inocentou o João Paulo Cunha, um dos reis dos “Petralhas”, mas negou “Habeas Corpus” a um coitado de um pescador que foi condenado há um ano e tanto de cadeia somente porque pescou 12 camarões em época de “defeso”; defeso vocês sabem o que é, né? – E isto acontecendo num país onde estão vendendo e comprando tudo e de tudo: usinas, empresas, jazidas, almas, consciências...

Mas como eu ia dizendo, este caso me fez lembrar outro caso acontecido na época da “ditadura” -- e lá vem eu falar mal dos “ditadores” -- um caso “assaz” (assaz... rsrs) interessante; foi assim:

Estávamos voando de Manaus para Forte Príncipe da Beira, transportando uma comitiva do Exército. Um General acompanhado de todo o seu Estado-Maior.  Ao chegarmos, ofereci ao general a cadeira do meu copila e ficamos sobrevoando aquela beleza de Forte, construído nos últimos anos do século XVIII, e imaginando com os meus botões como foi possível trazer aquelas coisas todas, todas aquelas cantarias desde Belém, rios acima; os canhões de bronze, as pedras, pois nas margens do Rio Guaporé não há pedras; que tarefa titânica; sem paralelo. Sem a Comara, a Comissão encarregada da Construção de Aeroportos na Região Amazônica; sem os possantes cargueiros Hércules C-130; enfrentando as febres equatoriais; enfrentando as arremetidas dos castelhanos!

Mas nada, nada, nada conseguiu impedir que brasileiros e portugueses, de mãos dadas, levassem a cabo este incrível empreendimento da história da nossa colonização...

Pousamos e fomos recebidos pelo Tenente Comandante do Pelotão. No almoço, vejam que grande surpresa: -- Como foi, onde foi que o tenente havia conseguido aquelas pedras tão preciosas? -- Pedras que estavam servindo de piso, num improvisado "restaurante" nas margens do rio Guaporé?

Na hora do rancho, fomos servidos com uma suculenta tartarugada; que delícia...  Foi quando olhei para o general, que gentilmente mandou que eu ficasse ao seu lado, começando a ficar vermelho quando o tenente informou que havia tirado aquelas pedras "daquele Forte, ali abandonado"... -- E as tartarugas? – O senhor não sabe que está proibida a pesca de tartarugas? – Desabou sobre nós um temporal silencioso e desconfortável... Coitado do tenente...

 Tentando aliviar a situação do atencioso, mas ingênuo comandante de pelotão, tenente ainda novinho, eu disse ao general que, se nós não pegássemos as coitadinhas das tartarugas, os Bolivianos, do outro lado do rio, iriam se fartar...: -- É; explica, mas não justifica... -- Vou levar este caso ao conhecimento do general Figueiredo, meu colega de turma, meu amigo particular, e haveremos de restaurar este Forte; aliás, ele é o único quadro, pintado a óleo, que existe no meu Gabinete...: -- Uma ótima ideia, general, disse eu tentando aliviar as tensões, mas já meio desconfiado e temeroso de levar também uma boa “mijada” do, na verdade, mais amigo e conselheiro, que “general”...

No dia seguinte decolamos para visitar outros Pelotões de Fronteira. Durante o voo fiquei imaginando como é dura a vida naqueles longínquos Pelotões...

Coronel Maciel.