Eu não teria coragem (e
com certeza nenhum de vocês, dos senhores, ou dos nossos militares) de cometer o
mais simples assassinato. Gosto mesmo é de matar moscas! Mosca eu não
refresco! Mas sou a favor da pena de
morte. Tinha um cachorro, vizinho meu, que enchia o meu e o saco da vizinhança
toda; de dia e de noite também. Um belo dia bolei um cuidadoso plano, o que
seria “um crime perfeito”. Comprei um fortíssimo veneno, duas deliciosas
linguiças, preparei tudo bem preparado e bem escondido. "Elementar, meu
caro Watson!" Mas na hora de “H”, tremi nos calços; acovardei-me (?).
Passado o susto, uma verdadeira tortura que eu
mesmo me submeti, passei até a gostar dos latidos do cachorro. (Apresso-me
a dizer que não sou nenhum santinho não...)
Vou lhes contar muito
rapidamente um caso e o porquê de eu ser a favor da pena de morte. Quem nunca
foi deve ir logo, correndo, voando antes que acabe. Vá logo conhecer uma das
regiões mais belas do Brasil. A fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. A
divisa é feita pelo caudaloso Rio Oiapoque. Na sede do município havia um
Pelotão de Fronteira, onde pernoitávamos. Era um dos vários Pelotões que
apoiávamos, com os nossos valorosos Dakotas, os “gigantes” C-47. Apoio total,
do Oiapoque ao distante Guaporé.
Foi numa dessas
travessias feitas numa "voadeira" que -- desviando-se das perigosas
pedras que se escondiam nas suas águas negras -- nos levava para compras “domésticas”
em “Saint George”:- - Uma ou duas garrafas de bom vinho francês, perfume para
fazer média com a “madame”; queijos, e outros inocentes “contrabandos”. Os franceses
que eram pagos para morar em Saint George, na grande maioria uns enormes
“criolões”, tão altos quanto “preguiçosos”, não conseguiam entender o que era
inflação. Os preços eram sempre os mesmos, mas em francos. Eram pagos
regiamente pelo governo francês para viverem numa boa por lá, mas bem longe do
conforto e das delícias de Paris. Eles também vinham fazer suas pequenas
compras do lado brasileiro.
Pois bem; foi numa
dessas travessias, conversando sobre a distante cidade de Natal, que um senhor
se aproximou de mim e me falou que era “Natalense”, mas que agora estava
morando assim meio escondido por aquelas bandas. Mas que sentia imensa falta de seus amigos e
familiares que moravam em Natal. Na realidade ele era um fugitivo da justiça.
Pediu-me para uma conversa reservada, e me contou seu caso, caso que tem muito
a ver com esse tal “Kit Gay” que o PT queria
distribuir pelas nossas escolas. Foi assim o seu doloroso caso:- - Matei
um traficante em Natal que havia viciado e seduzido sexualmente meu filho de
menor idade. -- Da primeira vez, me disse ele, mandamos o menino para fazer um
longo tratamento de desintoxicação no Rio; na volta foi novamente provocado e
seduzido, quando então resolvi matar “o filho da puta”. E por isso agora vivo aqui, fugindo da nossa justiça,
que é cega. À noite continuamos a
conversa num bar, onde ele me contou muitos outros detalhes do caso. E só me
contou por que ficou sabendo na conversa que conhecia a família da minha
mulher, que é também natalense.
Fiquei logo do seu
lado, dizendo a ele que, se quisesse, eu poderia falar com o Comandante do
Pelotão, meu amigo e velho conhecido, que com certeza lhe daria todo apoio naquela
sua triste condição. Caso contrário, eu seria obrigado a lhe dar voz de prisão,
disse brincando. (Será que eu tinha mesmo que lhe dar voz de prisão?).
Estou contando este
caso, pois com certeza “meu crime” já prescreveu, pois lá se vão mais de 30
anos. Contei o caso ao Capitão comandante do pelotão, que também aceitou ser
“cúmplice”.
Dei partida no meu
“Dakota”, decolei para Belém, e nunca mais fiquei sabendo a reta final daquela
triste caso.
Sou contra a pena de morte,
a não ser em casos assim...
Coronel Maciel.
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