sábado, 2 de novembro de 2013

Oração aos mortos.


Oração às mães que estão perdendo seus filhos neste Brasil tão grande, tão amado e tão traído; oração aos filhos que cedo, muito cedo, perderam suas tão queridas mães. E agora falo de mim... Mas queria neste dia de luto e de saudades falar dos nossos amigos pilotos, todos eles, todos aqueles que deram suas vidas em holocausto ao mais belo e empolgante de todos os ideais: a Aviação.

Nunca vou esquecer o dia eu que o Coronel-Aviador Paulo Sobral Ribeiro Gonçalves, ao lado da esposa, entrou no nosso alojamento; era um sábado, dia de licenciamento; no alojamento, somente os cadetes “laranjeiras”. Éramos então cadetes do 3º ano, quando o casal entrou para recolher os pertences do nosso inesquecível aluno 59-351 Antônio Gentil Ribeiro Gonçalves, morto num trágico acidente com um T-6. Nada mais triste que ver a mãe recolhendo as lembranças de um filho que acabara de morrer.

Nunca vou esquecer aquele triste dia quando a mãe do cadete 60-126 Clóvis Fonseca Menezes veio entregar na sala do Cadete de Dia alguns pertences do filho. Eram mais ou menos às dez horas da manhã de uma segunda-feira, quando ela entrou na sala, tão alegre e tão contente, sem saber que o Menezes acabara de morrer, em outro trágico acidente. O acidente em Fortaleza com o aluno 57-109 Renato Azuaga Ayres da Silva, agora Aspirante, ou já era Tenente? -- num voo de demonstração no Dia do Aviador, pilotando um F-80. Nunca vou me esquecer de todos os amigos; de todos aqueles que decolaram cedo para nunca mais voltar...

Dia destes, relendo o Nelson Rodrigues, deparei com uma das suas crônicas escritas com o seu inigualável sabor e maestria verbal; da sua incrível agilidade mental, contando um caso que eu gostaria de saber se foi um acontecido com um grande piloto de caça, se não me engano comandante do Grupo de Caça de Santa Cruz. Num combate simulado, o comandante fora “encaudado” por outro grande piloto de caça, o que significava dizer que “o comandante” seria abatido, no caso de um real combate aéreo. O comandante, talvez, quem sabe se por orgulho ferido, fez infeliz manobra evasiva, entrando nas nuvens que cobriam as montanhas nas proximidades da Base Aérea de Santa Cruz...  Morreu e foi para o céu.

Diz o Nelson, descansando num antigo dia de carnaval: -- “Não saí de casa. Fundei a minha solidão diante do vídeo. E, de repente, aparece uma conhecida minha, aliás, uma menina linda, linda. Um mês antes perdera o marido, um jovem aviador, moreno como um galã de neo-realismo italiano. O jato batera numa montanha e não restara do ser amado, para a viúva, um relógio, uma aliança, uma obturação. E, um mês depois, ela pôs um “sarong” em cima da eterna saudade e levou a viuvez para sambar.”

Coronel Maciel.

 

 

 

 

Um comentário:

Unknown disse...

Fosse eu o Presidente, já teria m andado prender esse coronel, nos termos do RDE.